mulheres adultas estudando

Não é possível para um adulto não alfabetizado, sem ajuda, saber qual é o ônibus que precisa pegar para chegar a um determinado lugar. Uma pessoa em idade adulta que não foi devidamente instruída não consegue entender com clareza as informações que são transmitidas por um telejornal ou através de uma rádio.

Um analfabeto funcional não desenvolveu as competências e habilidades mínimas necessárias para discernir sua escolha política.

“Se você acha que a educação custa caro, experimente a ignorância”, já afirmava Benjamin Franklin, um dos mais emblemáticos representantes da cultura progressista norte-americana, com toda a razão, diga-se de passagem. Os custos da ignorância, ou melhor, do analfabetismo, em suas várias instâncias, pode ser percebido por todos, no cotidiano, ao se verificar a sujeira nas ruas, o desperdício de alimentos nas feiras livres, a criminalidade crescente ou, até mesmo, na forma como as pessoas desrespeitam as leis e também, umas às outras.

A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é a escola tardia que, socialmente, não pôde ser antes oferecida ou cursada por homens e mulheres durante a infância e que, por conta disso, lhes custou caro e também a sociedade como um todo. Ter sido alijado da escola quando ainda menino ou menina, significou entrar para o mercado de trabalho de forma precoce e pela porta dos fundos, pela falta de pré-requisitos básicos, como saber ler e escrever. Para muitas jovens a falta de informação também ocasionou a gravidez precoce e a maternidade ainda na adolescência e, consequentemente, os custos sociais decorrentes desta situação, gerando maiores dificuldades para si mesmas e, também, para o país.

Ainda que tardia, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) representa galgar degraus importantes para seus alunos do ponto de vista da inclusão social, superando preconceitos, mazelas e problemas sérios, com a possibilidade de melhores empregos e condição de vida. A educação é percebida como um vetor de ascensão social e, os dados auferidos por pesquisas confirmam que, quanto maior a escolaridade de uma pessoa, maiores são os seus vencimentos e melhor é a sua qualidade de vida. Adicione-se a isso o fato de que, ainda como valor agregado, quanto maior a escolaridade da população, menor a desigualdade social, informação igualmente confirmada por meio de levantamentos realizados por agências especializadas.

Investir em uma formação de ensino superior resulta em ganhos futuros. A conclusão faz parte de relatório divulgado nesta terça-feira, 13, pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Segundo o documento, no Brasil, ter curso superior resulta em um aumento de 156% nos rendimentos. Um salário mínimo de R$ 545 seria elevado para quase R$ 1.400, por exemplo. Um salário de R$ 2 mil viraria R$ 5.120 com curso superior. É o mais alto índice entre todos os 30 países pesquisados. O estudo aponta que, nos países analisados, em média, um indivíduo que concluiu a educação superior recebe pelo menos 50% a mais do que uma pessoa com ensino médio concluído. (AGÊNCIA Brasil. Brasil é país onde fazer faculdade mais aumenta o salário. Disponível no site. Acesso em 16 jul 2018)

As pesquisas ainda revelam que, quanto maior a escolaridade dos pais, maior investimento e valorização dos estudos para os filhos, ou seja, surge um círculo virtuoso através do qual se promove mais e melhor formação das gerações posteriores, de filhos e netos, com maior ensejo a educação e a cultura e, consequentemente, mais benefícios para as pessoas e para toda a comunidade em que elas vivem. É o que afirma, por exemplo, Érica Fraga, da Rede Escola, em artigo sobre o assunto, conforme podemos verificar a seguir:

Estudo recente dos economistas Naercio Menezes Filho (Insper e USP) e Alison Pablo de Oliveira (USP) mostra que, em 1992, os 10% mais ricos do país tinham escolaridade 4,5 vezes maior do que a dos 10% mais pobres. Em 2009, essa diferença havia se reduzido para 3,2 vezes. O crescimento mais rápido da escolaridade da população de renda baixa se refletiu em ganhos também mais acelerados de rendimentos. Entre 2001 e 2009, a renda dos 10% mais pobres cresceu 118%, contra a expansão de 20% no topo da pirâmide. (FRAGA, Érica. Aumento da escolaridade resulta em diminuição da desigualdade. Disponível no PDF. Acesso em 16 jul 2018)

A EJA é, no entanto, uma formação que carece de atenção especial, uma modalidade muito específica, com peculiaridades que demandam uma formatação e execução particular, diferenciada daquela que é oferecida as crianças e adolescentes.

O processo de ensino e aprendizagem com jovens e adultos que não tiveram acesso à educação formal oferecida pelos bancos escolares em sua infância ou que tiveram esta formação parcial e fraca deve considerar tanto os aspectos externos, ou seja, aqueles relacionados ao momento de vida em que a formação via EJA irá acontecer, quanto as questões específicas do indivíduo, relacionadas a idade e elementos sociais, emocionais e psicológicos relativos a formação neste momento de suas vidas.

Os jovens ou o adultos que iniciam seus estudos por meio de EJA estão, muitas vezes, inseridos numa realidade em que já atuam no mercado de trabalho, auxiliam no pagamento das contas familiares, são responsáveis por cônjuges e filhos, trabalham em subempregos ou em empregos com baixa remuneração, estudam em horários alternativos, vão para a escola após jornadas de trabalho exaustivas e, muitas vezes, apesar de saberem que os estudos podem ajudar em seu futuro, estão propensos a desistir por conta dos demais compromissos que já têm em suas vidas.

Os jovens ou adultos que iniciam seus estudos em EJA irão, organicamente, sentir maiores dificuldades para evoluir nos estudos, demandando por parte dos educadores com os quais interagem, a necessária atenção e paciência para conseguirem ir galgando os saberes planejados para cada momento de seu processo formativo. Aprender quando o cérebro ainda está em seus anos iniciais de vida, durante a infância e a adolescência, partindo dos elementos concretos para os abstratos, daquilo que é palpável para o que é subjetivo, cumprindo e vencendo as etapas preconizadas por educadores como Piaget ou Vigotsky, entre outros, segue os ciclos naturais de evolução humana e acompanha o crescimento. Estimular com recursos diversos, dos livros aos computadores, passando por papel e lápis e chegando as metodologias ativas e aos projetos é algo preconizado para as crianças e adolescentes que irá, quando bem planejado, estruturado e realizado, compor elementos para sua formação plena.

Para jovens e adultos há, igualmente, uma necessidade de planejamento, oferecimento da necessária estrutura de apoio ao ensino, aprendizagem e estudo que, complementados por uma realização de qualidade, oportunizem a formação plena desejada. O uso de diferentes recursos e metodologias igualmente se impõe como demanda básica para a consecução do ciclo de aprendizagem e formação. Há, no entanto, que se adequar esta formação a faixa etária e, não somente a isso, devendo se considerar fatores como contexto, realidade, base cultural anterior, oferta de subsídios educacionais adequados e relacionados ao mundo real, trabalho com elementos de cunho acadêmico que tenham utilidade prática, letramento amplo que inclua não apenas a alfabetização, mas também o conhecimento matemático, científico, artístico, digital e cultural. Isso tudo em se considerando as exclusões e a falta de oportunidades anteriores relacionadas ao percurso histórico dos alunos de EJA.

A Educação de Jovens e Adultos não pode ser oferecida conforme ditames e padrões de aprendizagem aplicados as crianças e adolescentes por, justamente, desconsiderar as origens sociais, as dificuldades econômicas e a defasagem cultural dos envolvidos, além, é claro, do contexto e situação em que vivem quando entram em idade mais avançada em sala de aula, além dos pormenores específicos do desenvolvimento corporal e mental que têm na fase adulta.

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