Adolescente no sofá usando celular

Um contingente mais do que expressivo de adolescentes e jovens que estão fora da escola e do mercado de trabalho, ociosos, vivem nos lares de seus pais ou responsáveis, sendo então dependentes dos mesmos. Não estão economicamente ativos e nem, tampouco, se preparando para os desafios futuros, fazendo cursos de formação regulares, terminando os ciclos do ensino básico, ingressando em formações técnicas ou no ensino superior.

O índice é ainda mais preocupante quando verificamos, pelas informações do Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilio), levantamento produzido pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), referente ao ano de 2015, última aferição realizada e divulgada, que 1 em cada 5 jovens não está na escola, em formações extracurriculares e/ou treinamentos ou ainda, no mercado de trabalho.

Há, e isso é evidenciado pelas pesquisas, maior propensão a esta situação entre os jovens afrodescendentes, de não completar os estudos, viver com renda familiar baixa, ter dificuldades de entrar no mercado de trabalho. Isso só demonstra o quanto ainda prevalecem no país estruturas que mantém vivo o preconceito, a discriminação e a exclusão social e econômica dos negros.

O problema não é, no entanto, circunscrito a questão étnica, sendo também marcante a exclusão e maiores dificuldades para as adolescentes e jovens, ou seja, para o sexo feminino, de ter as mesmas possibilidades de avançar nos estudos, realizar cursos e pleitear melhores empregos. As pesquisas revelaram que entre aqueles que nem trabalham, nem estudam, as mulheres equivalem a 59,1% do total, ou seja, a cada 10 “nem-nem” como tem sido chamados estes adolescentes e jovens, 6 são do sexo feminino.

A conclusão do Ensino Médio pelas meninas apresenta índices baixos, chegando a somente 27,9% do total de adolescentes e jovens nesta faixa etária; esta situação se agrava ainda mais pelo fato de que entre estas meninas e jovens, que deveriam estar cursando o ensino médio, com idade média entre 16 e 20 anos, quase 1/3 delas já tiveram pelo menos um filho (31,9%).

Esta população, que equivale a um contingente maior que o de muitos países ou ainda a população de regiões metropolitanas como Rio de Janeiro ou São Paulo, ao viver às custas de seus pais ou responsáveis, onera os custos familiares de pessoas que já estão em idade mais avançada, ou vivendo as custas de aposentadorias. Esta situação torna-se, portanto, uma questão social séria, com implicações para a autoestima de um grande contingente de pessoas desta geração.

Se não tivéssemos pela frente estes dados alarmantes, relativos a uma realidade triste, de ociosidade que, certamente, induz a problemas de saúde e psíquicos ou, ainda, podem remeter a situações relacionadas a violência e a criminalidade, entre aqueles adolescentes e jovens que estão estudando, as informações captadas pelo Banco Mundial indicam que o nível de formação dos brasileiros apresenta defasagens e desníveis consideráveis em relação aos países mais desenvolvidos ou, mesmo, na comparação com outras nações em desenvolvimento.

O descrédito na educação formal, a falta de oportunidades para as pessoas desta faixa etária no mercado de trabalho, a descrença no potencial de muitos destes adolescentes e jovens brasileiros, associada a elementos como o custo Brasil, as reformas não implementadas nas áreas fiscal, política e previdenciária e a globalização a promover competição acirrada pelos mercados somente agravam o quadro, fazendo com que o país se veja em meio a um círculo vicioso em que, sem mudanças expressivas, será difícil sair, levando certamente, ao aumento de pessoas a constituir esse contingente recém-detectado pelos sociólogos chamado de “nem-nem”.

Como mudar este quadro?

Modificar o ensino no segmento do ensino médio, tornando-o mais significativo e relacionado ao contexto em que vivem os estudantes, criando laços reais entre a formação e o mercado de trabalho, oferecendo ferramentas e formações que permitam aos adolescentes e jovens a participação em projetos sociais ou em iniciativas de cunho cultural e esportivo são necessárias.

Incentivar as empresas a contratar jovens, já a partir dos 16 anos, como aprendizes ou estagiários, para que possam assim incorporar ao seu conhecimento e cotidiano as responsabilidades relativas ao mundo do trabalho, ter renda própria, aumentar a autoestima, sentirem-se mais úteis e integrados à sociedade.

Cobrar das famílias e dos responsáveis que seus filhos ou dependentes participem de cursos, no ensino regular ou técnico, no mínimo, para que tenham formação atualizada e de qualidade para ingressar no mundo do trabalho.

Prover, por meio das secretarias de educação e cultura, ações formativas para funções relacionadas ao comércio, agricultura ou serviços, com cursos objetivos, através do qual aprendam afazeres e devires técnicos como atendimento, secretariado, panificação, construção, manutenção e afins, oferecendo mão de obra qualificada para o mercado e, para os jovens, oportunidades reais de ingresso em empresas e iniciativas variadas.

São apenas algumas sugestões que, certamente, precisam e podem ser aperfeiçoadas e ampliadas. Tudo isso, no entanto, depende de vontade política, parcerias público-privadas, alteração de grades e propostas curriculares, preparação real para o mundo fora de casa de das escolas e, principalmente, de conscientização das famílias, autoridades e dos próprios jovens da necessidade de participação e inserção dos mesmos no âmbito social mais amplo.

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