Professoa e alunos

“Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais…” (Rubem Alves)

Apresento e analiso alguns dados sobre a formação e a realidade dos professores no Brasil atual para que possamos entender os desafios que se fazem presentes para os profissionais de hoje e amanhã que atuam em educação, sempre atentos as palavras de Rubem Alves, a abrir este artigo e estimular a continuidade de nossas ações.

 

– Há no Brasil cerca de 7900 cursos de licenciatura na área de educação.

Esse dado pode ser, a princípio, percebido como positivo, no entanto, é preciso verificar a qualidade da formação docente oferecida pelas instituições de ensino superior na área. Outra questão fundamental é a revisão dos currículos visando atualizar em conformidade com a necessidade do mundo atual, no qual se privilegiam competências e habilidades, buscando a formação integral dos formandos tanto em relação aos conteúdos quanto para que sejam autônomos, criativos, capazes de resolver problemas, proativos e sintonizados com o mundo em que vivem, atuando de forma ética e cidadã.

 

– Somente 2,4% dos estudantes que ingressam em universidades no país querem ser professores.

A carreira docente foi desvalorizada tanto no que tange a vencimentos quanto socialmente ao longo dos últimos 40 a 50 anos. Ser professor, exercer a docência, significa, na prática, muito mais que repetir infinitamente saberes consolidados e selecionados para constar em currículos estanques, criados por burocratas. Professores tem que ser instados, provocados e estimulados, todo o tempo, a constante aperfeiçoamento, estudos, pesquisas, leituras e contato com pessoas e cultura. Educadores são responsáveis pelo futuro de pessoas, comunidades, nações e de todo o mundo. Por suas mãos, da educação infantil ao ensino superior, são realizadas as aulas que irão oferecer aos educandos as ferramentas para que sejam economicamente ativos, socialmente participativos, politicamente conscientes e para que, em suas vidas particulares, sejam felizes. A carreira precisa ser revista, estimulada, economicamente viabilizada e reconhecida, promovida socialmente, respeitada pela comunidade e isso passa por políticas públicas, ações da sociedade civil e pela própria consciência e profissionalização plena dos professores. Somente desta forma passaremos a ter mais e melhores professores.

 

– De acordo com o Censo da Educação Superior realizado no ano de 2013, foram oferecidas 990 mil vagas em cursos superiores para a formação de docentes (Pedagogia e Licenciaturas) com o preenchimento de apenas 468 mil vagas.

A matemática é simples, objetiva e, neste caso, pontual, para não dizer cruel, ao demonstrar que menos da metade das vagas em cursos superiores de formação de professores no Brasil tem sido buscada pelos vestibulandos. Enquanto há cursos de medicina com centenas de candidatos disputando uma vaga, como por exemplo, nos exames da Unicamp, em que a previsão é a de mais de 300 candidatos por vaga para os exames de admissão para as turmas de 2019, em cursos de pedagogia ou licenciaturas, a disputa nem mesmo acontece, há 0,5 candidato por vaga, na média nacional… as escolas, como estão operando hoje, não demonstram a carreira docente como atrativa para as novas gerações. É preciso rever os processos, criar aulas mais dinâmicas, promover ações que integrem os conhecimentos trabalhados em sala de aula com aqueles do mundo exterior, criar pontes seguras que aproximem a escola de instituições de cultura, utilizar de forma mais consistente as novas tecnologias…

Quem quer ser professor ao se deparar com uma realidade na qual a função e o trabalho se restringem a, ano após ano, simplesmente replicar informações, com alunos desinteressados, problemas de disciplina, salários baixos, falta de apoio da comunidade, entre outras situações constatadas?

 

– De um total de pouco mais de 392 mil estudantes que ingressaram em cursos superiores de formação de professores em 2010, somente 201 mil concluíram ao final dos 4 anos de estudos na área.

Além do fato de que há poucos interessados em ingressar na carreira de professor, entre aqueles que efetivamente entram nas universidades, pouco mais da metade se forma ao final dos 4 anos de estudos em pedagogia e licenciaturas, conforme os dados apresentados pelo Censo Nacional da Educação realizado em 2013. Os cursos precisam, conforme já havíamos destacado, modernizar os currículos, oferecer infraestrutura melhor para os estudantes, vincular teoria e prática, preparar os futuros professores para a ação presencial também no aspecto relacional (com pais, alunos, colegas, gestores), trabalhar as novas tecnologias de modo regular, passar por avaliações periódicas por parte do MEC e, ao final das formações, ter a validação dos formandos por meio de um exame profissional, como aquele aplicado, por exemplo, aos advogados pela OAB.

 

– As formações de profissionais da educação via internet estão aumentando ano a ano, com registro, por exemplo, para 2013, de que 56% dos formandos na área fizeram cursos presenciais e 44% graduaram-se por meio de cursos à distância.

O uso de novas tecnologias e implementação de cursos superiores e de pós-graduação a distância é importante para a sociedade e faz parte de uma realidade cada vez mais consolidada. É necessário, no entanto, que as formações, sejam presenciais ou em EAD, sejam muito criteriosas, tendo sido aprovadas após análise cuidadosa do MEC, tendo o crivo de educadores responsáveis, oferecendo meios e recursos presenciais e online (em ambos os casos) para que se consolide real aprendizagem por parte dos futuros professores. Leitura, vídeos, games e demais estruturas digitais oferecidas nos cursos online, via EAD, precisam de suporte presencial, assim como, para quem faz os cursos em sala de aula, com professores ali presentes e disponíveis, é necessário oferecer continuidade de estudos via web.

 

– Dados de pesquisas recentes indicam que quem tem buscado a profissão de professor é proveniente de famílias mais modestas, em que os pais só concluíram o ensino fundamental; entre aqueles que são provenientes de famílias cujos pais ou responsáveis concluíram o ensino superior os índices são menores e estão em queda.

A questão em foco é destacada por conta da formação frágil a que foram submetidos uma parte considerável dos futuros professores brasileiros tendo em vista o acesso reduzido a elementos de cultura ou a formação escolar de melhor qualidade. Na realidade, para que esta situação seja superada é preciso apenas garantir que os futuros docentes, venham de qualquer classe social ou condição de vida, contem previamente com boa formação escolar e acesso à cultura, oferecidos pelas escolas no ensino básico, com estímulo para que suas famílias também promovam esta curiosidade e interesse pelo conhecimento e aprendizagem constantes.

 

– Metade dos professores que estão lecionando atualmente não recomendam a seus alunos que sigam a carreira docente.

Esta desilusão com a profissão, por vezes, acaba levando os professores a não promover a carreira, destacando, em suas falas, os aspectos negativos da profissão. É preciso atuar no sentido contrário, oferecendo meios para que os docentes que atualmente estão em sala de aula possam melhorar sua condição e qualidade de vida, contando com mais apoio social, tendo cursos para melhorar sua atuação docente, sendo financeiramente estimulados na busca por melhores resultados juntamente as suas turmas e, com isso, tendo a percepção de que vale a pena ser professor e atuar em escolas.

Apesar dos evidentes problemas e dificuldades constatados nas pesquisas, ser professor, para muitos docentes, traz realização pessoal pelo fato de estarem ajudando pessoas, formando as novas gerações, compartilhando conhecimento, promovendo a educação e a cultura.

O trabalho em educação oferece oportunidades de trabalho e, como tudo o que acontece hoje na sociedade, está em processo de reconstrução, revisão e atualização. Os conformes, práticas, processos e teorias estão sendo revistos para que os professores do século XXI atuem de forma diferenciada, mais próxima das demandas sociais, conectados, capazes de articular suas ações com os interesses dos alunos, atuando não apenas na docência e em escolas, mas em empresas, no mundo virtual, em ONGs, em instituições públicas, em pesquisa e tantas outras áreas.

Os desafios existem e cabe a todos os educadores, realmente engajados, superar cada um deles e construir hoje e sempre, a educação do presente e do futuro, visando o mundo melhor sonhado por cada um de nós, como professores e cidadãos. Desistir não é uma opção, o que temos pela frente é a perspectiva de que, por meio da educação, ajudemos as novas gerações a constituir um amanhã mais justo, digno, ético, de oportunidades para todos, sustentável, onde prevaleçam a paz, o equilíbrio e a felicidade.

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