Ilustração de uma lâmpada em meio a outras bolas de papel amassado

Tiago acorda todos os dias a mesma hora. Levanta-se da cama sempre do lado direito. Escova os dentes primeiro para depois lavar o rosto. Tira a calça do pijama para depois tirar a camisa. Guarda as roupas usadas para dormir dentro do travesseiro. Toma café com leite (e não leite com café, nesta ordem de colocação dos ingredientes ou qualquer outra bebida) com pão e requeijão no desjejum. Seu café da manhã é tão marcante para ele que até mesmo em hotéis repete a fórmula, sem inovar com frutas, iogurte, queijos… Vai para o trabalho no ônibus das 8 da manhã e retorna ao final do dia no das 18 horas, sem nunca mudar de ponto no qual entra no coletivo…

Admirava seu pai, que por sua vez copiou estas ideias do avô, que metódico como era, havia lido num livro de um autor que ninguém sabe mais quem é (dizem que era um alemão, mas podia ser também sueco ou russo), as vantagens de fazer tudo do mesmo jeito, na mesma hora, como por exemplo, comer os mesmos alimentos, vestir roupas de tecidos e cores dentro de uma mesma linha ou ainda pegar ônibus ou trens em horários e locais pré-estabelecidos.

No departamento em que trabalhava, Tiago só admitia pessoas que pensassem como ele. Se cercava de tantos outros “Tiagos” para ter certeza de que a produtividade tivesse o mesmo ritmo, padrão e resultados. Queria que fossem como um autêntico relógio suíço, daqueles que nunca atrasam ou adiantam…

Sua esposa e filhos eram também espelhos desta busca pelo padrão, pelo igual, pelo mesmo… Na adolescência o mais velho dos filhos do Tiago tentou mostrar alguma rebeldia contra aqueles modelos a ele imputados… Foi severamente punido e aprendeu a lição. Depois daquilo se ajustou, fez cursos técnicos iguais aos do pai e hoje é um funcionário exemplar da repartição onde Tiago trabalha, predestinado a ocupar o lugar de chefe que hoje é de seu progenitor (não por favorecimento, diga-se de passagem, mas por competência e simetria).

Já pensou se sua vida é como a do Tiago? Sempre mais do mesmo?

A provocação de Nietzsche no início do texto, propositalmente ali colocada diz respeito a vida de muitos Tiagos espalhados pelo mundo, alguns muito próximos de você ou, mesmo, se a provocação funcionar e a autocrítica for bem feita, por alguns dos leitores deste breve texto.

Pensar diferente significa, por vezes, dormir no chão ou no sofá, ou mesmo no banco da praça. Tomar o ônibus errado ou o caminho contrário. Enfrentar a turba a dizer que deve ser de um jeito e você, teimosamente insistir que pode ser de outro.

É preciso coragem. Peito estufado, sem temores, com respeito, mas acima de tudo, com disposição para ler o mundo de outra forma, buscando referências novas e arriscando. O mundo só se renovou de fato a partir de alguns “loucos”, depois chamados de gênios, que tentaram viver desse modo, arriscando-se em muitos momentos, tentando cruzar o Atlântico ou ir à Lua quando ninguém acreditava que isso era possível.

O primeiro movimento é desconstruir-se, abandonar hábitos que o tornaram chato, igual a tantos, sem originalidade. Suba na mesa para ver os arredores de outro ângulo. Tente cantar ou desenhar e desafie os temores de que não é capaz de fazer isso. Misture cores e luzes que não são triviais em sua vida. Mude para o campo se mora na cidade grande ou para a metrópole se é do interior. Admire aqueles que ousaram mudar suas vidas e o mundo e, mais importante, faça como eles, desafie o imponderável…

A vida é uma experiência única. Só há o bilhete de ida. Se você não aproveitar a viagem o que lhe restará no final?

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