Imagem do filme: O destino de uma nação

O momento não podia ser pior. Em meio a uma conturbada cena política local e mundial. No início de um dos maiores conflitos bélicos da história. Tendo como oponente um dos maiores ditadores de todos os tempos. Seria este o momento para assumir o comando político de uma nação que estava no centro do mundo, no coração de todos estes acontecimentos?

Foi neste cenário que Winston Churchill foi indicado pelo parlamento britânico e convidado pelo Rei George VI a assumir um dos maiores desafios já enfrentados por um estadista em todos os tempos: Tornar-se 1º ministro inglês para conter o avanço das tropas nazistas na Europa e evitar a invasão do Reino Unido pelos alemães comandados por Hitler.

O filme “O Destino de uma nação”, do diretor Joe Wright, vai ao âmago da questão, ou seja, centra-se justamente na transição de poder que ocorreu no comando político de uma das mais poderosas nações do mundo na virada dos anos 1930 para os 1940 e mostra como Churchill, apesar da oposição interna, inclusive de seu próprio partido, assume posições fortes e, com isso, riscos evidentes para si próprio, para o Reino Unido e para toda a Europa de então.

Quando assistimos filmes como “O destino de uma nação” percebemos o quanto as pessoas dependem, e muito, umas das outras, de diferentes maneiras, até aquelas que parecem fortes e poderosas demais, independentes e capazes de realizar grandes feitos.

Mesmo grandes líderes como Churchill, Lincoln ou Gandhi, todos os três já biografados de forma detalhada e, igualmente, retratados em grandes obras cinematográficas, tinham ao seu lado pessoas de sua confiança, disponíveis para dialogar e auxiliar nos momentos de dúvida, insegurança, incerteza ou fraqueza.

 

 

Enfrentar Hitler, num momento em que todos os demais líderes ingleses se apressavam rumo a tratados de não-agressão, visando apaziguar a situação e evitar a possível invasão da ilha britânica, pareceu aos parlamentares e ao grupo destinado a estruturar as ações de guerra daquela nação, um devaneio, um ato de orgulho, uma demonstração de força que o país não tinha. Pensavam tanto o Rei George quanto as principais lideranças políticas e militares que os discursos de Churchill eram apenas bravatas, trazidas a público por seu ego, ferido por derrotas passadas, sem sentido num momento em que as ações militares e o efetivo de soldados e armas dos alemães parecia muito superior e, portanto, impossível de ser confrontado.

Churchill parecia só e, os acontecimentos recentes faziam crer que ele, decididamente, estava errado. Os cercos empreendidos com grande rapidez e agilidade pelos alemães encurralaram as tropas inglesas e fizeram com que várias nações capitulassem em questão de dias ou semanas. Até mesmo os franceses estavam se rendendo e não tinham respostas para conter a invasão de seus territórios e a provável entrada dos exércitos de Hitler em Paris.

Churchill entendera, no entanto, desde o princípio, que estava diante de um insaciável ditador, apoiado por outros regimes totalitários, em especial por Mussolini, líder italiano, cujo regime fascista também o compelia a conquista de novos territórios, o chamado espaço vital, fonte de matérias-primas, mão de obra barata e mercados consumidores para seus produtos, na intensa competição comercial surgida no pós 2ª Revolução Industrial.

As novas nações, como a Alemanha e a Itália, unificadas no século XIX, não tinham colônias e concorriam com competidores já estabelecidos, como ingleses e franceses na Europa, com domínio de territórios nos continentes africano e asiático e, também, com americanos e soviéticos, que igualmente contavam com grandes zonas de influência.

Na visão de Churchill, qualquer tratado proposto pelos nazistas visava, a princípio, ganhos territoriais, como já ocorrera na década de 1930 e, o avanço sobre países livres, como Polônia, Bélgica, Holanda e França, evidenciava que a sede de conquistas de Hitler não cessaria até que, também a Inglaterra fosse conquistada.

O tempo veio a comprovar que Churchill estava certo, mas para que suas decisões fossem firmadas foi necessário travar uma grande batalha interna, por apoio político para que seus fortes posicionamentos de antagonismo a Hitler fossem assumidos por seu país, em especial pelas lideranças políticas. Neste sentido, os apoios pessoais e o posicionamento da população foram decisivos. Momentos do filme em que o rei George VI, a esposa de Churchill e a viagem do 1º ministro pelo metrô londrino, juntamente aos populares, são cenas marcantes desta produção de primeiríssima qualidade que demonstram o quanto o caráter, a personalidade, a força e a coragem de um homem são decisivos para que o destino de sua nação seja o da vitória e da grandeza e, mais, o quanto destas qualidades depende e é moldada pelo apoio que recebe.

Com atuação de gala de Gary Oldman no papel de Winston Churchill (ganhou o Oscar de melhor ator em 2018), apoiado por elenco de primeira qualidade, com destaque para as performances de Kristin Scott Thomas como Clementine Churchill, esposa do 1º ministro, e de Lily James, como Elizabeth Layton, secretária e datilógrafa dos discursos do grande líder inglês. Um filme para ser assistido e reprisado, uma lição de história e de vida.

 

 

Para refletir

1-  Por vezes pensamos que as lições da História ilustram ou orientam as pessoas somente quanto aos grandes acontecimentos e personagens. Decisões políticas de vulto, revoluções, alterações econômicas, produções culturais ou realizações esportivas ganham destaque e não paramos para pensar nas pequenas coisas e fatos relacionados a tais eventos. Um grande líder, como Churchill, retratado em “O destino de uma nação”, demonstra fraqueza, desânimo, incerteza e se percebe isolado. Como proceder? O que fazer? Que atitude e ações as demais pessoas em seu entorno deveriam ter? Como lidar com a oposição e manter-se firme diante de tais desafios? Procurar entender os bastidores, ler além daquilo que está evidenciado, entender a história tanto no que se refere ao que está diante de nossos olhos quanto o que está nos bastidores… São grandes desafios para quem ensina e estuda a história.

 

2- A tirania, a ditadura, os regimes coercitivos e antidemocráticos devem ser combatidos a qualquer preço. A lição de Churchill, embasada pelos fatos subsequentes da 2ª Guerra Mundial, com a quebra do pacto de não-agressão entre alemães e russos, por exemplo, ou pelo bombardeio de submarinos e embarcações americanas no Atlântico por navios de guerra germânicos, demonstra que a sede de conquistas, a ambição por novas terras e por poder, entre ditadores, de direita ou de esquerda, não respeita acordos. Examinar a história permite compreender como e porque a Inglaterra tinha que assumir um posicionamento de franca oposição aos nazistas em favor da democracia.

 

Veja o trailer do filme em:

 

Ficha técnica

  • Título: O destino de uma nação
  • Título Original: The darkest hour
  • País/Ano: Reino Unido, 2017
  • Duração: 122 minutos
  • Gênero: Drama/História
  • Direção: Joe Wright
  • Roteiro: Anthony McCarten
  • Elenco: Gary Oldman, Kristin Scott Thomas, Lily James, Ben Mendelsohn, Stephen Dillane, Ronald Pickup, Samuel West, Hilton McRae.

Informações

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