Estudante sentada no desenho da mesa

Uma das funções que tenho em meu centro de formação de professores de língua inglesa é analisar e otimizar as atividades propostas pelos educadores. O objetivo é fazer com que os professores sejam críticos do seu próprio trabalho, mas sem criar neuras ou se diminuírem, achando que são os piores professores da face da Terra. Ao contrário, a intenção é fazer com que as atividades estejam muito mais relevantes e eficazes para a aquisição de língua inglesa e não somente usar o que o material didático aponte naquela página do dia.

Muitos colegas ainda aplicam as chamadas “atividades de gramática”, mas esse tipo de atividade tem caído em desuso há muito tempo. Os exercícios hoje estão mais alinhados com o que gramática de fato é: um conjunto de regras a ser utilizado numa determinada língua. Ou seja, uma ferramenta.

Um problema grande das já mencionadas “atividades de gramática” é a mecanização. É bem comum a gente encontrar exercícios em que os alunos precisem passar uma determinada frase para outro tempo verbal. Porém, eles são bem espertos e vão acabar generalizando a regra da atividade e vão copiar e colar as respostas para todos os outros exemplos, perdendo a eficácia da aplicação de um exercício. Se a intenção era fazer o aluno raciocinar, simulando algo parecido com o que acontece em nosso cérebro quando temos que nos comunicar, talvez o tiro tenha saído pela culatra, uma vez que o rascunho de uma fala gerado em nossa mente se vale, acima de tudo, do inédito, e isso já cai por terra quando o aluno se depara com uma frase pré-estabelecida. Então, ele vai deduzir que deve colocar desinência -ed em todos os verbos e na primeira frase que não seja afirmativa, ele vai errar.

Outro tipo de atividade muito frequentemente usada em sala e em avaliações são aquelas em que os alunos têm que completar lacunas usando o tempo verbal requisitado no enunciado como o da foto abaixo. Vamos pensar nos motivos pelos quais aprendemos um segundo idioma: para se comunicar oralmente (e isso pressupõe ouvir também), comunicar-se por escrita (e-mails, mensagens de texto etc.), para ter acesso a algumas informações como livros, jornais, revistas, site e blogs, textos acadêmicos, para termos acesso a materiais informativos que não precisam de interação, como vídeos e podcasts, entre outros. Em nenhum momento temos um resultado que prevê “aprender o que é um present perfect para poder completar frases”. Portanto, esse tipo de atividade também não tem eficácia total no processo de aquisição de linguagem, ainda mais se a gente considerar que os exemplos são completamente irrelevantes para os alunos. Afinal, que motivação eles têm em saber sobre o irmão da Laura, ou se teve um acidente na pista? Esses tipos de atividades servem para descrever a língua, isto é, os alunos precisam saber o que é um present perfect, um past perfect e não necessariamente como utilizá-los, como produzir esses tempos verbais e, como foi mencionado anteriormente, não é esse o propósito de se aprender nenhum idioma.

 

Atividade de gramática comum

 

Ninguém fica descrevendo um martelo, mas, sim, ele é utilizado, colocado em prática e mostrado como se utiliza e para que serve. A língua inglesa e suas atividades devem ser iguais. Para se descobrir se os alunos de fato sabem como usar essa ferramenta chamada gramática dentro de um exercício escrito é simples: você pode pedir uma redação e colocar nas condições que os alunos utilizem determinados tempos verbais. Não. Não é a mesma coisa. Se a redação for bem planejada, ela estará completamente contextualizada, ou seja, tudo o que o aluno produzir será baseado em algo muito similar com o que ele realiza em seu cotidiano. Mais ainda, ele não vai precisar completar uma lacuna, ele vai precisar pensar de fato em como encaixar o tempo verbal pedido naquele contexto que ele pensa pra se expressar, coordenar ideias, ser coerente.

É fácil explorar aspectos gramaticais na fala e na parte auditiva, sendo que, na primeira, é necessário apenas que o aluno fale e, na última, o aluno pode dar continuidade a um assunto. Caso ele se perca ou não seja coerente com a conversa, é um indício forte de que as regras não estão sendo muito bem utilizadas. Dentro da leitura também é possível perceber se a gramática está sendo utilizada de acordo. A escrita pode ser trabalhada em conjunto com a leitura, então, se a proposta for saber se as regras para frases negativas no simple past estão bem assimiladas. Fazer perguntas de compreensão textual em simple past obriga o aluno a responder no mesmo tempo, completamente relacionado ao texto que, por sua vez, deve estar contextualizado com os alunos.

As atividades de gramática estão completamente obsoletas pois elas estão, agora, inseridas nas habilidades linguísticas a serem trabalhadas, isto é, do jeito mais coerente com o processo de aquisição de língua estrangeira. Até mesmo a atualização do CEFR, métrica universal de proficiência em línguas, está mais alinhado ao desempenho de tarefas na língua, o que mostra que as atividades aplicadas em sala de aula precisa ter a gramática diluída no exercício e não mais como alguns faziam (e ainda fazem). Portanto, vamos atualizar os exercícios e parar de desenvolver e aplicar as ultrapassadas atividades de gramática.

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