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No Brasil, em que temos cerca de 5570 municípios estabelecidos, apenas 85 deles, o equivalente a 1,5% do total, apresenta condições para que o saneamento básico seja dignamente oferecido a população…

E o que, na prática significa saneamento básico dentro desta oferta satisfatória, que atenda a demanda dos milhões de brasileiros que vivem em áreas urbanas no país?

Num primeiro momento significa não temos mais que presenciar cenas lamentáveis em que o esgoto corre a céu aberto pelas ruas brasileiras, de norte a sul do país, inclusive nas grandes capitais.

Estudo realizado sobre o assunto pela ABES, a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, divulgado no mês de junho de 2019, destaca que capitais como Curitiba, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador e Goiânia fazem parte do seletíssimo grupo de cidades que estão muito próximas de atingir a universalização dos serviços na área.

As demais capitais brasileiras, inclusive Brasília, ficam num meio termo entre “compromisso” e “empenho” para que esta universalização aconteça. Somente Porto Velho ainda está num estágio inicial, ou seja, nos “primeiros passos para a universalização” do saneamento básico em seus limites.

Saneamento básico significa saúde, relaciona-se a limpeza pública, está associado ao abastecimento regular e limpo de água, tem estreita ligação com coleta e tratamento de esgotos, faz-se presente com os serviços de recolhimento de lixo e resíduos sólidos e, muito importante, está também ligada a melhor destinação destes resíduos, por coleta seletiva, reaproveitamento de recursos, compostagem e afins.

Curitiba é a melhor cidade do país nos quesitos avaliados nesta pesquisa, atingindo 499,99 pontos em 500 possíveis, ou seja, está cumprindo com louvor e distinção suas ações nesta área. A capital dos paranaenses é, no entanto, exceção à regra, tendo em vista que somente 1,5% das cidades do Brasil tem condições de realizar dentro de níveis satisfatórios estes serviços essenciais.

Temos, no país, números assombrosos para uma das maiores economias do mundo (segundo dados atuais, o Brasil está em 8º lugar entre os países que mais produzem riquezas no planeta), como por exemplo, os que seguem abaixo:

– De cada 100 litros de esgoto lançados no meio-ambiente, somente 52 litros são tratados, ou seja, quase metade é despejada de forma indevida em rios, lagos, no ar ou no solo, causando, evidentemente, contaminação e trazendo alto risco de doenças, proliferação de insetos e ratos, ameaça a espécies que vivem nos ambientes em que são realizados estes despejos…

– Temos no Brasil, ainda, cerca de 35 milhões de pessoas sem acesso a água tratada, potável, num dos países em que há mais água passível de consumo em todo o mundo…

– Quase metade da população brasileira, num montante de aproximadamente 100 milhões de pessoas, continuam a usar fossas em pleno século XXI, ou seja, não tem suas casas ligadas a um sistema público de esgotos…

Há, evidentemente, dotações orçamentárias nas cidades brasileiras visando a aplicação de recursos em saneamento básico, no entanto, conforme pensam os governantes e políticos do país, saneamento básico não rende votos, pois as galerias, escondidas no subsolo após sua construção, não agregam apoio popular na hora dos pleitos pois são invisíveis aos olhos dos eleitores.

As repercussões desta miopia política na área, endêmica como se pode notar pelos indicadores nacionais relativos ao saneamento básico em todas as regiões e em cerca de 98,5% dos municípios, podem ser vistas nos postos de saúde, nos ciclos epidêmicos, na proliferação de insetos e ratos, no alto consumo de medicamentos e na sujeira visível a olho nu nas ruas de todo o Brasil.

Quanto o país gasta em saúde para suprir os erros da área de saneamento básico?

Quanto o Brasil deixa de ganhar com o turismo pelo fato de o país não oferecer condições salubres adequadas aos visitantes?

Que consequências advindas da falta de saneamento podem ser percebidas na produtividade econômica do Brasil?

No comparativo de custos, ou seja, na ponta do lápis ou de uma planilha bem elaborada, os custos com saneamento podem até ser altos no início dos investimentos, mas os valores despendidos com a saúde pública, as perdas na economia e as repercussões para a imagem do país no exterior são muito mais custosas do que aquilo que se precisa fazer na área de saneamento básico nas cidades brasileiras.

Saneamento básico é qualidade de vida e precisa ser prioridade também nos planos de governo dos municípios, estados e governo federal. Falar sobre o assunto nas escolas, despertar maior consciência entre os estudantes, mobilizar as novas gerações para um compromisso real, com metas factíveis, visando superar os índices nefastos do saneamento básico brasileiro vigentes dentro de um prazo de 10 a 20 anos, são ações basilares para o futuro do país.

Enquanto estivermos desperdiçando recursos públicos com a corrupção, obras secundárias e desnecessárias, investimentos sem planejamento a médio e longo prazos continuaremos a ser apenas um país promissor e nunca seremos o que se almeja para este gigante adormecido. É preciso agir de modo consciente, a partir das demandas da própria sociedade civil juntamente aos governantes eleitos, examinando os melhores exemplos existentes no país e no mundo, para que o Brasil não continue apresentando indicadores na área de saneamento básico impróprios, indignos e vexatórios como os atuais.

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