Boneco do Albert Einstein

Adjetivos são usados para descrever pessoas, situações, fenômenos, coisas e, até mesmo, movimentos da economia, política, artes, ciências, sociedade e educação. Buscamos com eles qualificar, para o bem e para o mal, como percebemos uma determinada coisa ou acontecimento. Firmamos com esta tipologia de palavras os elementos que definem, por opinião ou por constatação daquilo que estamos descrevendo, as suas características gerais e específicas.

Quando escolhemos adjetivos para falar das pessoas ou das coisas, partimos tanto daquilo que é objetivo, observável ou sensível, quanto da forma como cada um de nós se envolve com tal indivíduo ou objeto, por exemplo.

Ao falarmos sobre educação, utilizando adjetivos, podemos localizar esta área de atuação humana como essencial, importante, edificante, científica ou cultural e, desta forma, atribuímos as escolas, aos educadores e aos estudantes, tanto qualidades, quanto responsabilidades, associadas ao processo formativo em seu desenvolvimento e realização. Associamos, neste caso, a educação a elementos que a fazem ser reconhecida como algo não tangível que, porém, por suas características, oferece e oportuniza as pessoas, o acesso a conhecimentos que tornarão suas vidas melhores assim como a de seus pares e comunidades em que vivem.

Pode-se, igualmente, atribuir a educação, tendo em vista sua execução, adjetivos como conservadora, reprodutivista, massificante ou controladora, associadas a leituras e interpretações, contextos e situações, que observam no trabalho educacional uma forma de domínio social, manutenção do status quo, subserviência em relação a quem se oferece ou se impõe a escolarização…

Tudo depende da forma como se interpreta, do modo como se observa e, é claro, das características e qualidades inerentes ao fenômeno observado, neste exemplo, a educação.

Pode-se, em relação aos adjetivos, como também no que tange a qualquer vocábulo, criar ou modificar o sentido das palavras. É o que se observa, desde os anos 1990, com o termo “disrupção”.

Palavra oriunda do idioma inglês, inicialmente associada a problemas inesperados que geram a interrupção de algum processo, situação ou fenômeno – tendo, portanto, conotação negativa, por significar a ruptura, a quebra ou a descontinuidade, “disrupção” ganhou outro sentido na última década do século XX ao ser utilizada de modo distinto pelo professor e economista de Harvard, Clayton M. Christensen.

Em seu livro de 1995, “Tecnologias Disruptivas”, ele lançou uma releitura da palavra ao associar disrupção a ação de pequenas empresas de tecnologia, mais conhecidas como startups que, por meio de processos criativos e de desenvolvimento muito ágeis comparativamente as grandes indústrias do segmento tecnológico, criavam recursos que alteravam o rumo do segmento e da própria vida humana ao agregarem produtos e serviços ao cotidiano.

São, portanto, disruptivos, segundo Christensen, aqueles empreendedores que, por meio de suas ações, produzem inovações a partir de investimento mais baixo, agindo de forma criativa, oferecendo soluções que atendem demandas existentes ou que criam necessidades entre o público existente e que, por conta de suas características, se impõem de modo a modificar comportamentos, ações, pensamentos e a própria base existencial humana.

Inovação disruptiva é, portanto, diferente de inovação evolutiva ou revolucionária, conforme atestam Christensen e outros especialistas, que após a virada do século, validaram a terminologia a ponto de, atualmente, já estar consolidada em países mais ricos e desenvolvidos, como as nações europeias, os Estados Unidos ou o Japão.

Inovação evolutiva relaciona-se a estágios mais avançados de produtos ou serviços já existentes que, vão sendo melhorados em suas características essenciais, agregando inovações observadas ou em desenvolvimento no mercado.

Inovação revolucionária, por sua vez, poderia ser um conceito associado a disrupção, no entanto, preconiza a ideia de superação daquilo que já existe, seja um sistema social ou uma tecnologia e, em assim sendo, parte de elementos e situações já existentes.

Tanto no caso da inovação evolutiva quanto da revolucionária, os processos estão mais associados a empresas já estabelecidas quando se pensa em economia, produção e mercados, o que constitui outro diferencial quando comparadas com a inovação disruptiva.

Podemos pensar em empresas como a Apple, a Microsoft, o Google ou o Facebook como disruptivas em seus primórdios. Começaram em garagens ou dormitórios universitários, seus desenvolvedores tinham poucos recursos, trabalharam com ideias originais, seus produtos ou serviços modificaram a forma como as pessoas vivem, trabalham, se relacionam…

Hoje estas empresas já não são disruptivas. Todas elas prosseguem sua rota inovadora, mas seus projetos são essencialmente evolutivos ou, no máximo, revolucionários, e não mais tecnologias disruptivas.

A disrupção deixou de ser, com o passar dos anos, algo que se aplica somente ao segmento da tecnologia de ponta, algo a ser criado por jovens conectados de forma umbilical a programação, computadores ou internet. O conceito foi ampliado e pode se relacionar a formas, meios, técnicas, pensamentos, serviços e produtos de todas as áreas de atuação humana, desde que sua ação seja, de fato, algo que renove por completo o meio, o trabalho, as ações e relações humanas.

Em educação, por exemplo, hoje é possível perceber que escolas, universidades, grupos de pesquisa, ONGs e órgãos governamentais buscam meios, fórmulas e caminhos para fazer com que a escola supere o tradicionalismo, o conteudismo, as formas convencionais de ensino e aprendizagem.

O que vemos são, essencialmente, tentativas inovadoras ou revolucionárias em alguns casos. Projetos são desenvolvidos em nações como Finlândia, Dinamarca, Estados Unidos, Índia, Inglaterra, Colômbia e mesmo no Brasil, que realmente realizam ações de forma inovadora quanto a princípios, práticas, realizações e resultados. Escolas como o Colégio Fontan Capital, a E3 Civic High School, a Ørestad Gymnasium, a Riverside School, a Bath Studio School ou o Projeto Âncora, demonstram que é possível inovar ou mesmo revolucionar a educação.

O que parece um pouco mais complexo, em se tratando de educação, é ser disruptivo, conforme o conceito de Christensen…

A disrupção exige desprendimento de práticas tradicionais, convencionais e demanda a superação de entraves que não são apenas objetivos, materiais ou palpáveis. Há toda uma cultura a ser revista, repensada, reformulada. Uma nova escola talvez nem devesse ter este nome, certamente precisaria ampliar sua atuação para fora dos muros e salas de aula, precisaria estar integrada de forma direta com o mundo externo, teria que rever as relações entre mestres e aprendizes, precisaria entender e usar da melhor forma possível as tecnologias de informação e comunicação…

Como fazer inovação disruptiva na educação é um desafio que se impõe e que certamente mexe com a cabeça de muitos educadores, entre os quais me incluo…

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