Casal de costas um para o outro e com a cara fechada

“Nós nos acostumamos a uma nova situação: estar ‘juntos sozinhos’. Munidos da tecnologia, podemos estar em contato com qualquer um, em qualquer lugar, conectados ao ambiente que desejarmos. Queremos personalizar nossas vidas. Queremos entrar e sair de onde quer que estejamos. E com isso, nos acostumamos a estar em uma tribo de uma pessoa só, leais ao nosso próprio partido.” [Amizade a conta-gotas, artigo de Sherry Turkle, para o New York Times, reproduzido no caderno Link, do Estadão. Sherry é autora do livro “Alone Together: Why we expect more from technology and less from each other”]

 

Conversar com os amigos é um prazer. Trocas ideias com os colegas de trabalho é uma necessidade. Fazer isso ao vivo e em cores, não tem preço (parafraseando a série de propagandas de um cartão de crédito). 

Que as tecnologias vieram para ficar e que facilitam muito nossas vidas, é fato, ninguém duvida. Não podem tais ferramentas, no entanto, substituir as relações pessoais, olho no olho, frente a frente e prejudicar o diálogo, a conversa ou o bate-papo, em que instância for. 

Bater papo pela internet tem sentido quando estamos a distância ou com muita pressa. Deixar de interagir com alguém, trocando o prazer da companhia pela intermediação das redes sociais ou comunicadores instantâneos, por sua vez, beira a loucura, a insanidade.

Precisamos uns dos outros. A palavra é um alimento que tem mais sentido e nutre de forma muito consistente quando ouvimos de outro ser humano, percebendo suas expressões, seu tom, o tipo de vocabulário que utiliza, os gestos que acompanham a comunicação em curso.

Utilizo as tecnologias como muitos heavy-users, no serviço e, também, quando necessário, em casa ou pelo celular. Para mim, no entanto, é ferramenta de trabalho e não pode substituir o rico e necessário contato com a família, amigos e colegas de trabalho. 

Conversar é fundamental. Interagir é basilar. Não basta escrever em 140 caracteres, mandar uma mensagem na rede social, trocar ideias pelo Whatsapp ou postar em seu blog. O mais importante é o contato humano, vivenciar as nossas nuances, a nossa inconstância, as nossas incertezas, o riso farto fora de hora, o choro compulsivo em outros momentos, a paz de espírito que tantas vezes nos acompanha, o mau humor que por vezes toma conta…

Desde o início de meu trabalho com tecnologia educacional, lá pelos idos da virada de século, tive a preocupação de interromper o que fazia diante do computador depois de no máximo 2 horas. Me levantava, esticava as pernas, ia ao banheiro ou a cozinha em busca de um café e sempre estava a puxar alguns dos colegas mais novos, nascidos depois do surgimento de toda essa parafernália, para quem parece normal ficar de cara com a tela tantas horas e anormal estar de cara com alguém por algum tempo…

A vida sem conexão, sem photoshop, sem efeitos digitais, sem teclado, sem redes sociais, sem games ou vídeos na web, com toda a sua imperfeição é muito mais fascinante que o melhor dos computadores já surgidos ou que ainda irão surgir. Não é para saírem da rede em definitivo (se bem que as vezes tenho vontade de fazer isso), não é isso. Não sou radical a esse ponto. Apenas aconselho, em consonância com o que Sherry Turkle e alguns outros especialistas vem dizendo, que usemos as tecnologias como ferramentas e não com fim, base ou elemento fundamental de nossas existências.

Não perca o sorriso de sua filha. Não abra mão do beijo da pessoa amada. Ande de bicicleta. Vá até a esquina tomar um sorvete. Jogue bola. Caminhe pelas ruas sem rumo. Passe umas horas na cozinha preparando algo delicioso para comer com a família. Receba mais os amigos. Converse, converse e converse…

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