Pessoas de etnias diferentes com camisetas branca

Ao participar de um evento de educação, tive a oportunidade de ouvir um dos palestrantes, vindo de outro país, fazer uma observação bastante interessante e pertinente. Ele afirmou que estamos usando o termo “tolerância”, de modo frequente, no claro e proposital intuito de gerar melhor relacionamento entre as pessoas, mas ao pensar de modo mais focado sobre o vocábulo, se perguntou se as pessoas queriam ser toleradas ou se preferiam ser amadas…

Se analisarmos detidamente o termo “tolerar”, iremos concluir que, em linhas gerais se associa a ideia de “aguentar”, “suportar” e, também, de “aceitar”.

É certo que as pessoas, procuram associar a tolerância a ações simples, como se dispor a ouvir o outro, respeitar suas diferentes opiniões, exercitar a paciência, ser capaz de realizar autocrítica e de colocar-se no lugar do outro, não seriam, no entanto, tais ideias algo além da ação de aceitar alguém e, sim, na direção de amar ou respeitar o outro?

Talvez as pessoas tenham em mente mais o último significado, mas os demais existem e podem se sobrepor, criando uma situação que, convenhamos, é bastante desconfortável.

Se toleramos alguém e, com isso, o “aguentamos”, significa que estamos fazendo um grande esforço para aceitar tal pessoa e não, verdadeiramente, estendendo a mão em sua direção de forma genuína, autêntica e verdadeira no sentido de aceitar, independentemente de qualquer diferença que possa existir entre nós.

Falta, de fato, um sentimento mais fraterno, de aproximação real, através do qual os laços não sejam de pessoas que se “suportam com indulgência”, conforme registrado em dicionários online.

Entendo a afirmação do palestrante, vindo de outra nação, a nos dizer que é preciso mais, ou seja, que ninguém quer ser “tolerado”, que as pessoas querem ser “amadas”, respeitadas, tratadas com dignidade, ouvidas e tornadas amigas e parceiras.

Se o critério estipulado é o de que as pessoas sejam toleradas, criamos barreiras desde o princípio que não serão facilmente transpostas e que podem, com certeza, gerar rusgas, decepções e descontentamentos com o tempo, sendo inclusive, passíveis mais de afastar as pessoas do que de aproximá-las

É possível tolerar situações que nos causam desconforto, isso todo mundo passa ou já passou em algum momento. Não significa capitular em relação a elas e deixar que continuem a acontecer.

Tolerar pessoas é, por outro lado, algo que devemos pensar em outra instância, ampliando o conceito, pois a visão primeira, reducionista, relacionada ao “aguentar” ou “suportar” estar com alguém, nos coloca em constante situação de desconfiança, seja do nosso lado ou das pessoas “toleradas”.

É claro que todos temos o direito de não gostar de alguém e, nestes casos, talvez a tolerância se aplique, pois pelo menos nos daria o sentido da civilidade e respeito mínimos no trato com aqueles com os quais não temos afinidades.

O problema é ampliar este conceito de tolerância, relativo a “aguentar alguém”, em relação a pessoas que são “diferentes” por sua origem, etnia, cor da pele, orientação sexual, religião, classe social ou qualquer outro fator, somente por conta destas aparentes diferenças… Somos todos seres humanos, cujas particularidades ao invés de nos afastarem deveriam nos aproximar, permitindo a todos e a cada um de nós, perceber a riqueza que há na diversidade humana e de espécies vivas existentes no planeta e no universo.

Ainda que possamos desgostar pessoas e coisas ao nosso redor, tudo têm um por que de existir, de modo a alimentar o ciclo da vida que aqui reina e, só por isso, já deveria contar com nosso respeito e defesa de direitos e particularidades.

Um mundo em que tudo seja harmonioso e sem qualquer tipo de diferença ou embate é algo utópico, apesar disso, cultivar o amor, a fraternidade, o entendimento, a diversidade e a paz, para além do sentido limitado de tolerância, é algo que devemos perseguir, hoje e sempre.

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