Uma estante de madeira repleta de livros

Esta é uma pergunta que gestores, professores e, até mesmo, pais ou responsáveis por alunos e os próprios estudantes deveriam fazer sempre que lhes fossem apresentadas opções de materiais didáticos a serem utilizados em seus cursos.

Infelizmente a realidade das escolas brasileiras, em todos os níveis, do ensino infantil a universidade, é marcada por escolhas que se baseiam em critérios subjetivos, relacionados as preferências de quem vai conduzir os cursos, no caso, os docentes.

Estes, por sua vez, foram muitas vezes induzidos pelo hábito, tradição, professores que os influenciaram, insistência de editoras e seus representantes comerciais, publicidade massiva, herança de professores que lecionavam antes dele ou até por conta da escolha da escola onde trabalham, a usar determinada coleção, autor, sistema educacional, livro didático ou material apostilado.

A escolha de um material didático, no entanto, em muitas escolas é feita da forma correta, ou seja, com atenção plena a fatores como:

  • Adequação dos livros a linha pedagógica adotada pela escola;
  • Qualidade quanto ao conteúdo e linguagem;
  • Quantidade e variedade de exercícios;
  • Adequação ao público-alvo;
  • Editoração profissional;
  • Histórico do autor e da coleção de livros;
  • Atualização dos dados;
  • Perfil e reputação da editora ou sistema de ensino.

Escolas que atuam de forma profissional trabalham seguindo uma lógica bastante pertinente no processo de seleção de seus materiais que passa por etapas e pela percepção da necessidade de acordo com o projeto político pedagógico da instituição, a necessidade de seus alunos, o mercado, o desgaste (ou não) dos livros que já utiliza, a falta de apoio ou suporte pedagógico por parte da editora que fornece os materiais e, é claro, resultados auferidos em exames como o ENEM, a Prova Brasil ou provas regionais e vestibulares aplicados por órgãos governamentais e universidades públicas ou privadas.

O primeiro passo tendo sido dado, ou seja, a compreensão de que é preciso trocar materiais didáticos, tendo em vista que os atuais, em uso, não respondem de forma adequada, por fatores como envelhecimento da coleção ou título em uso, não atualização de dados e exercícios, resultados fracos em exames ou mesmo reclamações de alunos, pais ou responsáveis quanto a qualidade dos livros, é preciso verificar as opções disponíveis no mercado e considerar todos os itens já mencionados para conferir a relevância dos materiais disponíveis.

Aciona-se então a coordenação pedagógica que, em sintonia com a direção da escola e com o corpo docente ou com o professor da disciplina específica em que se busca tal material, sejam analisados materiais destacados que estão disponíveis para adoção.

As editoras ou sistemas de ensino têm suas metas e títulos que querem imputar as escolas, há as preferências dos representantes comerciais, no entanto, a escolha é da escola, do professor, sempre em sintonia com as diretrizes pedagógicas da instituição de ensino. Por isso é preciso não se deixar influenciar apenas pela propaganda ou pelo visual das coleções. Há materiais cujo layout e editoração são extremamente qualificados, mas que, no entanto, tem textos superficiais, pecam pelo excesso ou falta de atividades, demonstram falta de adequação ao segmento atendido…

A análise precisa ser muito criteriosa. Avaliam-se desde itens como os tipos de fonte utilizadas no livro, as imagens oferecidas na publicação, o nível e qualidade dos textos, o uso de boxes específicos, a indicação de materiais de apoio como livros paradidáticos, filmes, músicas ou sites na internet, a pertinência das séries de exercício e sua lógica na sequência didática, a atualização do conteúdo, se o material é forte ou não (consistente, capaz de realmente embasar os alunos), a linha didática…

Conforme mencionado, a primeira leitura é aquela feita pela coordenação que, após tecer suas considerações, aciona os docentes e pede que eles, sem saber o que foi já percebido em relação as obras em análise pelos gestores, evitando desta forma que suas opiniões influenciem a leitura de seus professores, realizem criterioso estudo do material.

Critérios técnicos mais específicos irão surgir com a leitura dos docentes. O exame prévio, realizado pela coordenação e direção tem um foco mais amplo, buscando entender a proposta didática, os alinhamentos possíveis com a proposta e linha adotada pela escola. O docente, como especialista em matemática, ciências, língua portuguesa ou em algum outro campo específico do conhecimento, vai perceber se o currículo é adequado no tocante a sua matéria ou disciplina, se as explicações apresentadas nos textos são coerentes, o nível de atualização do conteúdo, a qualidade dos exercícios oferecidos e outros detalhes que irão ser decisivos para o aproveitamento do recurso em suas aulas.

O ideal seria que, além deste estudo prévio, as escolas fizessem, ainda, aulas teste usando os materiais e que tivessem acesso a dados e informações de outras unidades educacionais que usam tais livros e coleções. Esta já seria uma etapa mais avançada neste processo de seleção. Tive a oportunidade de participar de uma ação, em escola de ensino básico, de experiência na qual este processo foi feito de forma plena, tendo inclusive a etapa com aulas teste sido aplicada para que então os materiais fossem aprovados e selecionados para uso no próximo ano letivo.

Como parte do processo, no exemplo mencionado, a coordenação e os professores encarregados da análise realizaram ainda formação interna, além daquela oferecida por editoras ou sistemas, com seus colegas, posicionando possibilidades de melhor utilização dos materiais didáticos selecionados.

Para uma escolha consciente, ou seja, para responder à pergunta que abre este artigo, sobre a qualidade de um livro, coleção ou sistema didático, é preciso, portanto, uma longa jornada de avaliações antes da adoção, caso contrário, o risco de erro e arrependimento é algo presente e possível.

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