Mãos de crianças em mesas escolares

Todo início de ano as escolas buscam reforçar seu acervo de recursos para oferecer mais elementos de apoio ao estudo e a aprendizagem. É comum, por exemplo, que as bibliotecas escolares recebam novos livros, a partir de listas de indicação acordadas entre a direção e os professores; os laboratórios de ciências são igualmente agraciados, em tantas unidades escolares, com o aporte de instrumentos e insumos; artes e educação física ganham desde itens básicos como pinceis, tintas ou bolas, até melhorias nas instalações utilizadas em suas aulas…

De uns anos para cá, uma das áreas em que se buscam mais novidades de interesse para o ensino tem sido aquela relacionada as tecnologias educacionais. Hardware e software, redes e aplicativos, ambientes e plataformas são recursos que fazem parte do vocabulário das escolas desde, principalmente, o final dos anos 1990, com maior ênfase depois da virada do século e do milênio.

Escolas atualizadas precisam estar “por dentro” daquilo que está sendo lançado e, consequentemente, necessitam adquirir ferramentas tecnológicas que auxiliem a implementar as aulas perante seu público mais imediato, os alunos e, também, para atender os anseios da sociedade.

No início, como todos sabem, foram estruturados os célebres laboratórios de informática que reinaram entre os anos 1980 e 1990. Na década seguinte o conceito foi substituído pela ideia de informática educativa. Com o passar dos anos e a constatação de que a indústria criava cada vez mais produtos fáceis de utilizar, acessíveis em qualquer lugar e hora, disponíveis para acesso pela internet e passíveis de estar com seus usuários todo o tempo, como no caso dos smartphones, fomos vivenciando a era da mobilidade, com todos conectados diariamente por muitas horas.

O advento dos tablets, em 2010, com o surgimento do IPad criou uma nova perspectiva para todos os usuários e, particularmente para as instituições de ensino. Mais memória, telas maiores, igualmente móveis (como os celulares inteligentes), passíveis de rápido acesso a uma infinidade de aplicativos, contando com a expansão das redes 3G/4G e Wi-Fi, foram se tornando peças regulares no “arsenal” de escolas e estudantes.

Rever processos e metodologias, ao longo dos anos 2000 e principalmente da década de 2010, tornou-se uma prioridade. A partir de pesquisas e levantamentos realizados nas universidades, por grupos de estudo que passaram a focar no uso de recursos de tecnologia no âmbito escolar, foram surgindo ideias diferenciadas e enriquecedoras como a sala de aula invertida e o ensino híbrido, entre outras. Recursos como acervos de materiais em vídeo, simulações, animações, acesso a exercícios e, melhor, com indicação personalizada e, muitas vezes, gamificada, para alunos e professores, foram também se tornando regulares.

Ainda assim, ano após ano, feira após feira, congressos e eventos ocorrendo e trazendo inovações atrás de inovações, saem escolas e professores em busca de mais ferramentas tecnológicas para suas salas de aula.

Nada de errado quanto a isso. Cabe, no entanto, elencar algumas questões essenciais antes de sair as compras, para evitar erros e exageros. O que devemos nos perguntar para ter acesso a qualidade e não a quantidade de recursos ofertados? Seguem abaixo algumas ponderações essenciais:

  1. Quais são as nossas necessidades em termos de apoio tecnológico ou presencial aos nossos alunos?
  2. Há outras áreas mais prioritárias de investimentos na escola ou o foco deve ser mesmo em tecnologias?
  3. Tendo ciência das premências, o que há de possibilidades que preencham ou atendam estas demandas?
  4. Que segmentos precisam de apoio tecnológico? Quais são as particularidades a serem atendidas em cada um deles?
  5. Testar, avaliar e validar recursos é sempre importante?
  6. Ter mais de uma opção para analisar é necessário?
  7. Onde, porque, como e quando são dúvidas essenciais a serem respondidas antes de qualquer aquisição.
  8. Após a aquisição… Terei suporte dos fornecedores para formação, uso e manutenção?
  9. O uso dos recursos faz parte do planejamento de todas as equipes envolvidas?
  10. Tenho um plano e uma prática de divulgação dos recursos adquiridos perante a comunidade atendida e interessada?

Esta é uma listagem básica de perguntas a serem respondidas a que toda escola ou rede de ensino deve se ater antes de se precipitar as compras ou, ainda, ser levada a adquirir algo que empresas e vendedores tentam lhes motivar a comprar sem que exista necessidade e compreensão dos recursos ofertados.

Nos anos 2000, por exemplo, muitas escolas compraram lousas digitais. O investimento naquele período era alto. Este item de hardware era caro. Dependendo do tamanho da escola a possibilidade de aquisição era reduzida a 1 ou 2 peças. Para muitas delas foi, literalmente “um tiro n’água”, ou seja, o custo elevado não tinha retorno real em termos de aprendizagem. O uso das lousas ainda era complicado e mal explicado para os professores. As peças de reposição eram caras. Não existiam metodologias ou práticas que ensejassem o uso ou facilitassem a introdução das smartboards nas aulas… Enfim, em muitas destas escolas os equipamentos ficaram ociosos ou viraram apenas peça de marketing e divulgação do quanto tal unidade de ensino era “avançada” ou “tecnológica”.

Em 2012, em função do lançamento do IPad e do surgimento dos primeiros tablets Android, constatei em visita a várias escolas espalhadas pelo Brasil que a principal demanda delas para inovação em tecnologias educacionais eram justamente estes itens. Perguntava então para diretores, coordenadores e mantenedores de escolas o que fariam com os tablets, efetivamente, em suas salas de aula. Ninguém sabia ao certo o que fazer ou como os tablets seriam usados e aplicados com finalidades educativas em suas salas de aula.

Neste sentido é de fundamental importância um planejamento adequado, com olhar aguçado em relação as necessidades reais da escola, se programando para o uso e aplicação de novos recursos tecnológicos. Ao listar, de acordo com os questionamentos trazidos neste artigo quais os pontos condutores das resoluções relativas a aquisição de novas tecnologias para uso na escola, o índice de acerto e aplicabilidade tende a aumentar bastante e, desta maneira, justificar a proposição de que mais tecnologias sejam trazidas para o âmbito educacional.

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