Relógio com números romanos e figuras da astrologia

Não existe cultura popular e cultura erudita, da mesma forma que não existe arte popular e arte “de elite”. O que existe são boas e más realizações culturais e artísticas. A intenção de qualificar qualquer uma delas, com discutíveis critérios de qualidade, parte geralmente de uma posição de insegurança e arrogância (essas irmãs gêmeas); não se verá jamais um escritor, dramaturgo, ator, músico, compositor, pintor, escultor, cineasta, brogueiro, com razoável sucesso em seus termos (isso é importante, há os que mais valorizam a pecúnia, outros o reconhecimento, os melhores a constatação de que bem fizeram sua obra) tentando impor uma nobiliarquia ao seu mister. Entre Mestre Vitalino e Brecheret há diferenças palpáveis de técnica, repertório, propósito, mas uma imensa identidade no que mais importa, o poder de criar beleza, ou feiura, que emocione e instigue o espectador.

Dentre os paralelos que se estabelecem com frequência entre diversas “gradações” de importância cultural ou científica podemos destacar o ainda atual embate entre os conceitos de astronomia e astrologia. Horóscopos estão presentes em jornais, blogs, revistas e programas de TV, são colunas consideradas essenciais por parte dos leitores, embora desprezadas por alguns. Já a astronomia ocupa espaço destacado entre as disciplinas universitárias, reconhecida e capaz de nos levar aos confins do universo, em naves espaciais ou em mapas estelares.

Ambas se originam de uma única fonte, desenvolvida como uma tentativa de compreender o tempo e o espaço, e como nós, seres humanos, nos inserimos dentro deles. Em busca das respostas às eternas indagações sobre nossas origens e destinação, temos tentado nos projetar além das explicações sensíveis ou mesmo técnicas, exercitando nossa imaginação e revelando nossos sentimentos mais íntimos de medo ou de esperança

Desde eras imemoriais olhamos o céu, esperando algum aviso divino ou entendimento de nosso futuro, e basta considerar o quanto enchentes, terremotos, incêndios e outras catástrofes naturais nos atingem ainda hoje, apesar de todo conhecimento de técnicas de prevenção e redução de danos que desenvolvemos, para saber quão urgente poderia ser esta arte divinatória.

Assim, passamos a projetar na abóboda celeste as inseguranças, tempestades, calmarias, capacidade de aceitação de nosso destino, ótimas novas, imensas tragédias; e os conceitos de astrologia e astronomia estavam interligados, de certa forma considerados sinônimos, embora astronomia seja ciência do estudo dos movimento dos astros, enquanto astrologia pretendia determinar a influência destes no temperamento, caráter, destino ou ações dos seres humanos.

Psicologia e física, duas áreas distintas porem com alguns tópicos comuns devem muito de seus desenvolvimento aos primeiros pesquisadores da astrologia, que, com seus registros mais antigos datando de cerca de milhares de anos, foi definitivamente separada da astronomia somente no século XVIII, e foi auxiliar importante até no desenvolvimento da arquitetura, seus preceitos influenciaram algumas grandiosas construções do mundo antigo.

Alguns astrólogos modernos pretendem classificar astrologia como uma ciência social, como uma linguagem simbólica ou até mesmo como forma de arte, no entanto nenhum experimento atendendo às normas científicas demonstrou a sua eficiência para descrever personalidades ou elaborar previsões certeiras para o futuro, além daquelas que podem ocorrer em qualquer evento aleatório, num mundo em que tudo parece ter idêntica probabilidade de ocorrer, embora alguns comportamentos possam, evidentemente, predispor mais ou menos a determinadas consequências. No entanto, negar sua importância histórica será negar exatamente o percurso que leva do conhecimento empírico até a ciência, do simples medo ao conhecimento.

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