Capa do filme Samba

Uma das grandes vantagens do advento do streaming está relacionada ao fato de que, com mais competidores no mercado que oferece acesso a filmes e séries, praticamente todos os serviços disponíveis estão ampliando seu leque de opções.

Na prática isso significa não apenas mais filmes e séries, com produções novas, de qualidade, mas também que o público espectador poderá ver películas de diferentes países, novas ou clássicas, anteriormente restritas a circuitos cult. Filmes europeus, como aqueles produzidos na França, Alemanha, Itália, Espanha, Portugal e países nórdicos, por exemplo, chegavam apenas se tivessem sido premiados ou destacados em festivais e conquistado crítica e resultados expressivos de bilheteria em seus países e continentes.

Felizmente, com a globalização dos filmes e séries, agora é possível ver filmes destes países europeus e também de nações que antes tínhamos pouco acesso, como Índia, Coréia do Sul, Irã, África do Sul, Chile, México e por aí afora.

“Samba”, filme dos diretores Eric Toledano e Olivier Nakache, comédia francesa estrelada por Omar Sy (muito conhecido no Brasil pelo sucesso do filme “Intocáveis”), é uma destas produções que, provavelmente, não conheceríamos se não fosse esta virada no mercado mundial de serviços de distribuição direta ao consumidor final, em especial com o surgimento do streaming.

Apesar do nome, “Samba” não é um filme francês sobre o ritmo musical brasileiro, o título se refere ao nome do protagonista, um senegalês, vivido por Omar Sy, que vive em Paris há 10 anos de forma ilegal.

E neste ponto já temos um aspecto muito interessante da produção, pois um dos motes do roteiro, bem costurado, foca na questão dos refugiados e como vivem a se esconder, tentando ser invisíveis, se colocando nas sombras para não serem pegos pelas autoridades e deportados.

Na prática isso significa ser menos que subcidadão, no país em que ocorreu a Revolução Francesa, cujo mote principal eram os direitos humanos, a cidadania, a inclusão da plebe… Viver de empregos que não são registrados, que pagam mal, tendo que fugir a qualquer momento, residindo em pocilgas, tendo que mudar de nome…

Mas o filme não para por aí, pois além de Samba (Omar Sy), temos também outra personagem principal, Alice, vivida por Charlotte Gainsbourg, que atua numa ONG dedicada a auxiliar refugiados a conseguir direito de permanência na França.

A questão de Alice é que ela é uma executiva que teve uma forte crise nervosa, incorrendo em Síndrome de Burnout que, por conta disso, se afastou de seu trabalho para tratamentos e que atua no 3º setor para ir se recuperando, a base de terapia e remédios para se recompor.

 

 

E o que é a Síndrome de Burnout senão o estresse em seu limite, ou seja, fruto de cobranças excessivas, de trabalho extenuante, em que se perde o domínio da própria vida pessoal, sem se divisar as horas necessárias para cuidar de si daquelas em que se dedica ao ofício, a uma empresa ou empreendimento, conforme explica a própria Alice no filme.

O encontro destes dois personagens coloca em destaque as incongruências do mundo moderno, relacionadas ao fato de que um dos países icônicos no que tange a liberdade se coloca a perseguir imigrantes, a fechar suas fronteiras e a policiar trabalhadores ao mesmo tempo em que a globalização ocorre e, com ela, mais e mais pessoas querem migrar e lutar por uma vida melhor.

Isso, adicionado ao fato de que, uma vida melhor cobra cada vez mais e maior dedicação ao trabalho e as empresas para se manter no mercado e ascender e, é claro, isso tem ocasionado um crescimento considerável nos casos de estresse e crises nervosas, entre outras consequências, mais leves ou piores…

O filme dos diretores Eric Toledano e Olivier Nakache parece despretensioso, e de fato é uma produção agradável, em que em alguns momentos nos divertimos com as situações vividas pelos personagens principais e por seus pares na trama. Adicione-se a isso, algumas situações com uma pitada de drama e romance e temos uma produção que merece ser vista e apreciada por todos. Não bastassem estes bons atributos, a atuação do elenco é de qualidade e a trilha sonora tem música brasileira de fundo, com Gilberto Gil e Jorge Benjor, um luxo. Há, é claro, as lições a serem aprendidas e elas se relacionam justamente as questões centrais do filme, em especial, criar condições para que as pessoas não precisem migrar de seus países ou que sejam melhor recebidas em outras nações, na condição de refugiados, ou ainda, que o trabalho não esgote as pessoas até seu limite e as faça, literalmente, adoecer.

 

 

Para Refletir

1- A grave crise de refugiados políticos continua a ser um problema para as nações mais ricas e desenvolvidas, em especial, para os países da Europa. O que é esta crise? Quais são suas origens? O que tem sido proposto para resolver a questão? Apesar de alguns países abrirem espaço para a entrada de parte destes refugiados, a demanda é muito maior que a oferta de vagas… sendo assim, muitos países têm atuado no sentido de policiar suas fronteiras ou de perseguir refugiados ilegalmente estabelecidos em seu território. Isso não tem sido efetivo na busca da resolução do problema. O que fazer então? Que outros projetos existem? O que você faria para resolver isso? Já pensou em apoio as nações de onde vieram tais imigrantes? Este tema, trazido à tona no filme “Samba”, pode ser discutido e trabalhado como se os alunos fossem representantes de diferentes nações reunidos em algum fórum especial da ONU, trabalhando dados, especulando projetos, entrevistando refugiados…

2- A Síndrome de Burnout, o estresse, as crises nervosas, a estafa, a ansiedade e tantas outras enfermidades de caráter psicológico e físico estão aumentando em todo o mundo. As estatísticas comprovam isso e demonstram que grande parte dos problemas se relacionam a velocidade que imprimimos as nossas vidas, as demandas cada vez maiores (e por vezes insanas) no trabalho, as cobranças na vida pessoal, a falta de tempo para si mesmo, para cuidar da saúde física e mental, dormindo mal, descansando de forma insuficiente, não tendo tempo para se exercitar, ver os amigos, se alimentar de forma tranquila, cultivar seus hobbies e algum lazer… Buscar os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), cruzar estas informações com aquelas específicas do Brasil, de seu estado ou da cidade em que vive, trazer especialistas para falar a respeito na escola, abrir apresentações dos alunos sobre o tema pesquisado e trabalhado em projetos para a comunidade… Tudo isso pode ser feito e, o drama da personagem Alice, do filme “Samba”, é um bom modo de começar a discutir a questão.

 

Veja o trailer:

 

Ficha Técnica

  • Título: Samba
  • Título Original: Samba
  • País/Ano: França, 2014
  • Duração: 118 minutos
  • Gênero: Comédia/Drama
  • Direção: Eric Toledano e Olivier Nakache
  • Roteiro: Eric Toledano e Olivier Nakache
  • Elenco: Omar Sy, Charlotte Gainsbourg, Tahar Rahim, Izïa Higelim, Issaka Sawadogo, Heléne Vincent, Christiane Millet, Adel Bencherif.

Informações

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