Aluno em sala de aula

A professora olhou para o aluno e percebeu que seus olhos estavam com um tom levemente amarelado. Pensou que poderia ser algum tipo de icterícia. Chamou o menino a frente e comentou com ele que aquilo precisaria ser examinado por um médico, poderia ser uma hepatite, disse ela. A família, alertada pela professora, buscou apoio de um especialista e foi detectado um problema de saúde que ocasionou medicação e tratamento.

A menina sentada nas fileiras intermediárias era aplicada, fazia as lições, procurava participar da aula, mostrava-se disposta a aprender. Seus resultados, no entanto, eram abaixo da média, o que gerava decepção tanto dela quanto da família e dos professores. Foi então, numa conversa com um de seus professores e com a orientadora educacional da escola que estes profissionais perceberam que a menina tinha problemas na vista e que precisaria de óculos. Ela foi então encaminhada a um oftalmologista. Não demorou muito para que seu rendimento melhorasse.

Corria a aula de educação física e após um choque no jogo de futebol um dos meninos caiu no chão e não conseguia sair mais de lá. A princípio o professor pensou que fosse apenas uma encenação. Ao chegar no local percebeu que o menino havia se lesionado com gravidade, possivelmente uma pequena fratura. Acionou a direção que, por sua vez, ligou para a casa do aluno e já, de imediato, pediu apoio a uma unidade móvel de pronto-atendimento.

São casos da vida real. Aconteceram de fato e, provavelmente, não são diferentes daquilo que muitos profissionais da educação já viveram em algum momento de suas vidas.

Mas como proceder? De que forma atuar para prevenir problemas como estes nas escolas? Que tipo de atendimento ou apoio as escolas precisam ter para que emergências possam ser socorridas de forma correta e com a necessária presteza?

Há, por parte de alguns educadores, a preocupação quanto a tornar a escola um espaço de múltiplos serviços, alterando seus rumos e fazendo com que a maior preocupação desta instituição seja desvirtuada, perdendo o foco no ensino e aprendizagem.

Isso remonta a políticas públicas que levaram médicos, dentistas, psicólogos e outros profissionais de saúde para atendimento regular no âmbito das escolas. Estas práticas foram, muitas vezes, ações de cunho populista, eleitoreiro e que, certamente, não podem nortear e orientar ações preventivas ou de socorro a emergências nas escolas.

Algumas escolas, de redes privadas, procuram grupos médicos especializados com a finalidade de contar com o suporte de equipes de saúde e transporte rápido em situações de emergência. Essa medida, quando possível, resolve uma parte dos problemas que surgem nas escolas, justamente aqueles relacionados a acidentes de percurso, como a contusão de um aluno numa aula de educação física, no intervalo ou alguma queda ao subir escadarias no prédio da instituição em que estuda, por exemplo.

É preciso, no entanto, trabalhar sempre de modo a prevenir problemas. E atendimentos de saúde não se restringem a casos de emergência nas escolas ou na vida.

Ter apoio médico emergencial, privado ou público, é algo que deveria ser previsto em lei no tocante as escolas e redes de ensino. Acidentes acontecem, desde contusões sérias, com lesões graves ou não, incorrendo na necessidade de ambulâncias, médicos, enfermeiros, transporte adequado do paciente, primeiros-socorros… Há, também, outras situações, como aquelas que envolvem intoxicação alimentar, uso indevido de medicamentos, alunos que vão para a escola sem se alimentar e passam mal a ponto de desmaiar, ataques epiléticos e situações diversas que demandam algum conhecimento para atendimento por parte de profissionais da escola.

Para princípio de conversa, a escola precisa ter dados e informações coletadas no ato da matrícula da criança ou adolescente como aluno regular da instituição. Todo e qualquer tipo de restrição alimentar (lactose, glúten, diabetes…), uso de remédios (ocasionais ou regulares), tratamentos em andamento (médico, psicológico, psiquiátrico, fonoaudiólogo, dentário), atendimento por profissionais de apoio educacional (como professores particulares, pedagogos, psicopedagogos) precisa ser passado pela família para a escola. De posse destas informações, a escola precisa se preparar para agir de forma correta e pontual.

Nesse sentido, a orientação educacional, serviço da escola que normalmente fica também encarregado deste acompanhamento, necessita organizar as informações e alertar os professores em casos específicos, quanto a tratamentos e remédios em uso por alunos da escola.

Situações específicas, como aquelas relacionadas a síndromes variadas que eventualmente tenham sido diagnosticadas por especialistas e que careçam de algum tipo de acompanhamento ou ação especial da escola em relação aos alunos devem ser efetivadas. É preciso que tais situações sejam comprovadas por laudos médicos e atestadas por profissionais para que ações de apoio se efetivem. Provas adaptadas, aulas de apoio, reforço escolar, materiais específicos (em braile, por exemplo) que sejam necessários, precisam ser implementados. O apoio dos docentes é primordial para que tudo isso aconteça da melhor forma possível. Compreender as dificuldades e auxiliar os alunos em situações como estas depende, por sua vez, de informação. Nesse caso, a escola precisa realizar formações, trazer especialistas, permitir que as pessoas que irão ter contato com os alunos em tais condições possam saber o que fazer, como proceder e de que forma podem ajudar, de fato, tais estudantes.

Algumas escolas, cientes da necessidade de apoio e contando com recursos para tal iniciativa, contam com enfermeiras de plantão durante os horários de aulas, visando apoio aos alunos que precisem ser medicados ou socorridos, em virtude de pequenos acidentes. Isso ajuda muito tanto os alunos quanto as equipes gestoras, que em alguns casos, são as pessoas que têm que dar socorro aos alunos, quando tais profissionais de saúde não fazem parte do corpo de colaboradores das escolas.

Ações de prevenção, como por exemplo, exames médicos no início do ano, para verificar as condições gerais de saúde dos alunos e mesmo dos funcionários, realizado por empresas especializadas é algo também percebido em algumas unidades de ensino. Isso permite, por exemplo, prevenir problemas relacionados a visão e audição e, com isso, orientar as famílias a procurar especialistas que ajudem seus filhos a ouvir ou enxergar melhor. Programas de prevenção passam também, por profissionais da área dentária, que vão as escolas e fazem exames básicos, além de orientar as crianças e adolescentes sobre como cuidar melhor de seus dentes.

Cursos de socorro rápido para todos os profissionais da escola são também úteis, para evitar contratempos ou algum atendimento que mais prejudique do que ajude o aluno a ser medicado.

O que não se pode perder de vista, porém, é o olhar cuidadoso e respeitoso dos profissionais de educação, atentos a seus alunos, prontos a ajudar sempre que for necessário, como a professora da primeira história contada nesse artigo, que percebeu a icterícia de seu aluno e alertou a família. Sou grato a ela até hoje…

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