Capa do livro "A quinta disciplina

Pesquisa realizada pela Shell nos anos 1980 estimou que o tempo de vida médio de uma empresa é inferior a 40 anos, ou seja, metade do tempo de vida de um ser humano, segundo os padrões atuais. Este mesmo levantamento mostrou que 1/3 das 500 maiores empresas dos Estados Unidos no início da década de 1970 haviam encerrado atividades em 1983.  Estes dados são apresentados no livro “A Quinta Disciplina”, de Peter Senge, que nos introduz, de forma pertinente, estudada e reflexiva, entre outros temas, aos erros decisivos cometidos pelas organizações, de acordo com seus estudos e pesquisas, para que tantas empresas venham a desaparecer em tão pouco tempo.

De acordo com Senge, entre os erros mais comuns que direcionam empresas, de qualquer tamanho, ao fracasso, encontram-se os seguintes:

1- “Eu sou meu cargo”

Ao assumirem posições específicas na hierarquia de uma empresa os profissionais vestem o cargo, resumem seu olhar para as ações e projetos relacionados a sua área específica de atuação e não conseguem enxergar o todo da companhia, deixando de interagir com outros departamentos e funcionários, como deveriam para o bem e prosperidade geral dos empreendimentos ali em desenvolvimento. A visão fragmentada não permite que colaborem com outros segmentos ainda que tenham ideias, formação, conhecimentos específicos ou mesmo experiências que possam ser compartilhadas.

2- “O inimigo está lá fora”

Os erros e problemas que ocorrem numa empresa jamais são fruto da ação de quem realmente os cometeu. Há sempre uma grande predisposição a buscar explicações nas ações alheias. O problema está no departamento ao lado, que não realizou suas funções como deveria ou então no mundo externo, ou seja, no cliente ou no concorrente que não perceberam as qualidades inerentes aos produtos e serviços oferecidos por nossa empresa. Será mesmo? É preciso desenvolver a autocrítica e a capacidade de entender erros e problemas causados por nós mesmos, mas isso parece mais difícil que construir um foguete e com ele conseguir viajar para planetas distantes…

3- “A ilusão de assumir o controle”

As empresas, através de seus funcionários, tendem a assumir duas posturas em relação aos problemas e dificuldades com os quais se deparam: tentar se antecipar a eles ou corrigi-los quando surgem. As ações neste caso são definidas a partir de duas linhas de comportamento: o proativo e o reativo. O ideal é o primeiro movimento, ou seja, assumir as rédeas antes que as situações e erros se consolidem. O problema é que muitas vezes achamos estar agindo de modo proativo quando na verdade apenas reagimos aos problemas pois eles já surgiram e se estabeleceram. “Com bastante frequência, proatividade é reatividade disfarçada”, nos ensina Senge, que arremata afirmando que “a verdadeira proatividade consiste em perceber qual é a nossa contribuição para nossos próprios problemas”, ou seja, quando nos propomos a pensar, equacionar as situações, entender o todo e projetar novas soluções a serem implementadas.

4- “A fixação em eventos”

As preocupações e problemas do cotidiano, os resultados mais imediatos e as ações e projetos que estamos desenvolvendo agora ou hoje monopolizam os olhares e não nos permitem a visão ampla do cenário. O foco é necessário, mas os horizontes e a percepção do movimento, das ações e das perspectivas da empresa não podem deixar de estar próximos o tempo todo. Se não conseguimos perceber os céus, a chuva que se anuncia ou a calmaria que pode nos ajudar a guiar o barco, olhando somente para as condições atmosféricas imediatas, podemos sucumbir e afundar o navio e sacrificar a vida de todos os tripulantes. Senge afirma quanto a esta questão que “a ironia é que, hoje, as principais ameaças à sobrevivência, tanto nas organizações quanto em nossas sociedades, não vêm dos eventos súbitos, mas de processos lentos e graduais”. 

5- “A parábola do sapo escaldado”

Ao se utilizar do exemplo do sapo que, quando colocado em uma panela com água, em diferentes condições (temperatura ambiente, fervendo ou em progressiva elevação) tem diferentes reações. No primeiro caso, fica embaixo d’água pelo tempo que quiser, acomodado. No segundo, ao perceber o calor exagerado, pula imediatamente para fora. No terceiro, a elevação da temperatura é tão sutil que o sapo não percebe e, quando graus mais elevados são atingidos, a criatura está tão acomodada que não consegue reagir e morre. Senge usa esta história para fazer um paralelo com empresas que olham apenas para o mercado, a concorrência ou suas próprias instâncias para ver o que acontece agora ou em um curto período de tempo, sem buscar bases e acontecimentos passados que orientem quanto ao que o futuro trará e, igualmente, sem tentar se antecipar quanto as mudanças que especialistas e estudiosos, com base em levantamentos, projetos e pesquisas indicam.

6- “A ilusão de aprender com a experiência”

As aulas na universidade são importantes, mas o que aprendemos no cotidiano, a partir das experiências vividas é que consolidam o profissional que somos. O mesmo, pensamos, se traduz para as corporações. Mas o quanto conseguimos ver daquilo que fizemos e realizamos profissionalmente? Muitas vezes as ações de hoje, cujas consequências futuras esperamos serem fortuitas e positivas, nos escapam os sentidos. A contratação de um funcionário e suas repercussões futuras… É possível prever o quanto isso afetará a empresa? A ênfase maior numa linha de produtos ou serviços… Significa sucesso ou fracasso para a companhia nos anos vindouros? As expectativas são sempre as melhores possíveis, mas o fato é que, como afirma Senge, “aprendemos melhor com a experiência, todavia nunca experimentamos diretamente as consequências de nossas decisões mais importantes”. 

7- “O mito da equipe gerencial”

A empresa contrata gerentes experientes e capacitados para contar com seus serviços no sentido de administrar setores, produtos ou serviços oferecidos. Todos se conhecem, se respeitam e colaboram uns com os outros. A companhia prospera e vivem felizes para sempre… É o que se espera, mas esbarramos na competição interna, na necessidade de mostrar serviço e estar na frente perante outros setores e profissionais, na busca por melhores posições na hierarquia e consequentes salários mais altos. Quem será o próximo diretor? Qual dos gerentes assumirá o comando da importante filial que surge no exterior? A avaliação interna indica qual profissional como o mais dedicado entre os gestores? Enfim, o que deveria ser colaboração acaba se tornando uma luta de menor ou maior proporção nos bastidores e, com isso, ao invés de ajudar a empresa, estes executivos prejudicam-na. Estes gerentes acreditam que precisam sempre estar à frente, ter as melhores soluções para os problemas da empresa nesta disputa interna. Poucos são aqueles que se habilitam “a indagar sobre questões complexas” pois perguntar pode ser sinal de fraqueza e debilidade que os prejudicaria nesta competição interna…

São problemas constatados e que se verificam em muitos empreendimentos segundo especialistas como Senge. Talvez estejam acontecendo diante de seus olhos, neste exato momento e você não tenha percebido, ou talvez até tenha, mas não dê a devida importância… O que fazer? A leitura do clássico livro de Peter Senge nos auxilia a compreender estas situações e, além disso, assenta as bases da empresa que aprende, que é capaz de se atualizar, de compreender o mercado, de atender as necessidades reais de seus consumidores e clientes, de internamente estimular seus colaboradores, gerando proatividade e possibilidades reais de crescimento num mundo cada vez mais competitivo.

Apesar de ter sido publicado nos anos 1980, muitas das informações são atuais e condizentes com o novo mercado mundial, globalizado e, com isso permitem a empreendedores, gestores e colaboradores não apenas um melhor entendimento de como deve ser a cultura corporativa, mas, principalmente, lhes oferece reais meios de fazer com que o trabalho floresça e renda frutos e satisfação para todos nesta empresa moderna, que aprende. Leitura obrigatória!

Obs. Este artigo é uma interpretação livre e pessoal do capítulo 2 (Sua organização tem uma deficiência de aprendizagem) do livro “A quinta disciplina – Arte e prática da organização que aprende”, de Peter Senge, publicado no Brasil pela Editora Best Seller) e tem como propósito dar uma amostragem do valor da obra, estimulando novos leitores a conhecer este importante trabalho! 

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