Como trabalhar a igualdade de gênero com os alunos na escola?

Se é de pequeno que se torce o pepino, como reprimenda aos atos reprováveis, é também na educação das crianças e no trabalho que fazemos na escola que as educamos para a igualdade de gênero, direitos, respeito às mulheres e às diferenças, ao combate ao racismo e a todas as formas de preconceito.

A educação sexista, que atribui mais direitos aos meninos desde pequenos do que às meninas, é a base para a desigualdade de gênero que gera a defasagem salarial, mesmo que ambos exerçam a mesma função – as mulheres chegam a receber 25% menos que os homens; faltam oportunidades iguais e o machismo induz o homem a acreditar que tem poder sobre o corpo da mulher, o que resulta em violências de todo tipo, incluindo o feminicídio.

O estudo “Por ser menina no Brasil: crescendo entre direitos e violências” (IPlan, 2014), pesquisa realizada com 1.771 meninas de 6 a 14 anos de idade, nas cinco regiões do Brasil, revelou que 81,4% das meninas arrumam a própria cama, tarefa que só é executada por 11,6% dos irmãos (meninos). 76,8% das meninas lavam a louça e 65,6% limpam a casa, enquanto apenas 12,5% dos irmãos lavam a louça e 11,4% limpam a casa. 41% das meninas cozinham e 34,6% cuidam dos seus irmãos. Já os garotos somam 11,4% dos que fazem a comida e 10% dos que participam do cuidado dos irmãos mais novos.

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Por que isso é ruim?

Atribuir essas tarefas ao gênero feminino é uma forma de “naturalizar” que cabe à menina e, mais tarde, à mulher, um papel que cabe aos dois.

A educação sexista reflete na autoestima, nos estudos, na convivência escolar, nos relacionamentos futuros, na crença do homem que se considera com mais direitos do que a mulher e no trabalho com mais oportunidades ao homem, como se a mulher não fosse capaz.

Dessa forma, a educação dos meninos é construída baseada numa masculinidade tóxica, com repercussões negativas na escola e, mais tarde, na vida pessoal e profissional.

 

Qual é o papel da escola em relação à igualdade de gênero?

Abrir o devido espaço para a discussão, uma vez que já temos suporte legal que legitima esse diálogo por parte do docente e da instituição.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 1990), em seu Art. 53, traz que “a criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania”, e a Constituição Federal, em seu Art. 6., traz a educação como um dos direitos do cidadão. Nesse sentido, faz parte de todo processo educativo a conversa sobre gênero, sexualidade e direitos iguais, o que contribui para o seu desenvolvimento físico, psicológico, cognitivo e social.

Temos respaldo também no Estatuto da Juventude (Art. 17 “O jovem tem direito à diversidade e à igualdade de direitos… e não será discriminado por motivo de: I – etnia, raça, cor da pele, cultura, origem, idade e sexo; II – orientação sexual …); nas Diretrizes Curriculares Nacionais (“os componentes curriculares e as áreas de conhecimento devem articular os seus conteúdos…Temas como saúde, sexualidade e gênero…”); na Convenção Interamericana de Direitos Humanos (1969); na Agenda 2030 (2015) e nos Princípios do Yogyakarta (2007) que estabelecem a efetivação da legislação internacional de direitos humanos em relação à orientação sexual e identidade de gênero.

         

Em termos práticos, o que podemos fazer para trabalhar a igualdade de gênero?

Nos EUA, aulas a respeito das questões positivas da masculinidade diminuem índices de violência contra a mulher. O programa mudou as crenças da turma sobre atitudes violentas, incluindo assédio e violência sexual. Ao se concentrar em expressões positivas de masculinidade, esta proposta ajuda os meninos a encontrar maneiras positivas de prevenir a violência.

Em 2020, o governo britânico tornou obrigatória a inclusão da educação sobre relacionamento no currículo escolar. Essa preocupação se justifica na medida que a “relação abusiva” e o “controle coercitivo” não é tão visível quanto a agressão física, mas muito danosa, e esse comportamento já pode ser visto nas escolas.

A escola pode realizar atividades em grupo – no contracurso escolar ou através da interdisciplinaridade, oficinas ou feiras de ciências e literatura – com discussões sobre gênero, bullying e outras violências, igualdade de direitos e como realizar uma campanha que ressalte o respeito às diferenças. O trabalho pode ser realizado por um docente, e um aluno que poderá multiplicar as ações na escola.

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Com o início das aulas em 2021, algumas ações podem contribuir para o debate na escola:

Meninos e meninas podem brincar juntos:

Meninas e meninos podem brincar de desmontar as peças do brinquedo e montar. Não é por serem meninas que não terão habilidades. Podemos ter meninas mais ágeis e meninos mais lentos, tudo bem! Mas também podem brincar de carrinho, jogar bola, casinha e elas nem sempre de princesas e os garotos de super heróis.

Os brinquedos podem ser os mesmos:

É importante entendermos que as crianças estão numa fase de conhecer, descobrir, brincar, experimentar e, neste sentido, a casa e os brinquedos do sexo oposto fazem parte dessas fantasias e descobertas.

Todos podem se divertir com os mais diferentes brinquedos e brincarem juntos, sem distinção de gênero. No mundo atual, os filhos veem os pais cozinhando e a mãe dirigindo, então, por que não trazer esta realidade para os brinquedos e as atividades escolares?

As cores não definem se é coisa de menino ou de menina:

Ao longo da história, a cor azul, ao contrário do que se propaga hoje, era o tom das vestimentas femininas a partir da religião cristã, que introduziu essa ideia. Tanto que a imagem da Virgem Maria contava com uma túnica cuja tonalidade era formada por um tom azul-claro. A tonalidade virou a cor da Virgem Maria, que representa a delicadeza e a maternidade.

Por outro lado, a cor rosa era símbolo de força e poder, uma representação do sangue diluído, fruto de grandes batalhas e conquistas com o uso da coragem. Nas obras de arte, podemos ver homens usando roupas no tom rosa, como o rei Luís XV da França. Como veem não existe nenhuma base científica para essa associação.

As meninas não precisam que cuidem delas:

Elas precisam de respeito e que os seus direitos sejam garantidos com igualdade.

Homem que é homem não chora:

Chora, sim! Choramos porque nos sentimos tristes, chateados e porque sentimos uma dor no peito. Isso independe de ser menino ou menina. Meninos também podem demostrar medo, fragilidade e nem serem tão corajosos.

Essas ações podem ser trabalhadas nas turmas – cada item numa turma – e os resultados apresentados num painel aberto a todos, seguido de um debate com todos da escola.

Estando no começo do ano, podemos incluí-los no planejamento escolar, o que garante a igualdade de direitos e cultura pela paz, como contempla a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), através da inclusão da lei nº 13.663 de 2018, em seu inciso X, que “estabelece ações destinadas a promover a cultura pela paz nas escolas”.

Que tal abrir espaço para esse tão importante diálogo?!

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