As emoções das crianças no ensino remoto: um enfoque lúdico

A pandemia do Coronavírus nos trouxe inúmeras perdas e momentos de reflexões e inquietações, não é mesmo? Para as escolas, os ensinos remoto e híbrido se tornaram essenciais para a manutenção e ativação das aulas. Esse artigo tem por propósito trazer indicações e reflexões sobre as emoções, o lúdico e a criança nos tempos atuais.

Ao nascer, a criança é imediatamente inserida nas relações sociais: as suas necessidades são atendidas pelo adulto, que se torna o centro das atenções do bebê. O carinho, a atenção e a fala constante com a criança criam nela uma necessidade socialmente mediada para Bissoli (2014).

Ainda para Bissoli (2014), a formação psicológica central do primeiro ano de vida é a percepção. Ela permite a apropriação sensorial do mundo em um processo comunicativo-emocional direto com o adulto, ou seja, possibilitando o desenvolvimento das capacidades intelectuais e de personalidade do bebê.

Com tamanha simplicidade e, ao mesmo tempo, complexidade, ele, o bebê, guarda uma neuroplasticidade transmodal, constituindo-se na capacidade do cérebro de se reorganizar, se adaptando, modelando, uma espécie de resiliência dos neurônios, estando presente na primeira e segunda infância; dessa forma, toda criança possui a capacidade de absorver informações por diferentes sentidos e um auxiliar o outro em sua aprendizagem (SILVA; TUBELO, 2020)

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O desenvolvimento da aprendizagem nas crianças

Por isso a infância é recheada de vontades dos sentidos, de vontade de se lambuzar e aprender, uma pulsão volitiva. Sim, a criança aprende sentindo cheiros (dimensão ósmica), texturas (dimensão tátil), ouvindo o som e o silêncio (dimensão auditiva), sentindo gostos ruins e bons (dimensão gustativa), vendo a beleza, a estética dos objetos, da natureza (dimensão visual), percebendo o peso (barognosia), comprimento (topognosia). Ela aprende desafiando seus pés ao caminhar (bipedia), subindo um degrau de cada vez da escada, descendo de uma pedra, segurando-se onde consegue (bimania) para Silva e Tubelo (2020).

O desenvolvimento da manipulação dos objetos acontece em crianças entre um e três anos. No momento da manipulação dos objetos a memória se torna, a princípio, a função que se desenvolve como linha principal, subordinando as demais formações psíquicas. A criança bem pequenininha deixa de submeter-se completamente aos estímulos presentes em seu campo perceptivo. A percepção da criança torna-se cada vez mais semântica, isto é, ela já é capaz de compreender o mundo à sua volta de modo mais integrado (BISSOLI, 2014).

Para Silva e Tubelo (2020) a primeiríssima infância, que percorre o tempo cronológico do zero aos três anos e onze meses de vida extrauterina, constitui-se na primeira “janela de oportunidades”, ou seja, o período sensível para a aprendizagem que só acontece mediante às atividades da atenção, imaginação, memória, percepções, pensamento e linguagem verbal ou não verbal da criança e, todas, perpassam os sentidos.

Caminhando ao lado da capacidade de manipulação de objetos é apresentada outra capacidade essencial – a linguagem oral. A criança busca ampliar suas possibilidades comunicativas expandindo deliberadamente o seu vocabulário.

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O momento das atividades lúdicas

Entre três e seis anos um novo momento é apresentado – o momento das atividades lúdicas. Nesse período a criança passa por uma completa transformação em sua personalidade, sendo marcada por uma nova formação central: a descoberta de si mesma como sujeito, a formação da própria identidade, segundo Bissoli (2014). Brincadeiras como faz de conta, construção de regras, brincar simbólico e outras são essenciais nessa fase! Papais brinquem como seu filho!

Para Rueda et al (2013) o desenvolvimento emocional envolve o aumento da capacidade de sentir, entender e diferenciar emoções cada vez mais complexas, bem como a capacidade de autorregulá-las, para que o indivíduo possa se adaptar ao ambiente social ou atingir metas presentes ou futuras. 

Como os seres humanos são predominantemente sociais, entender suas próprias emoções e a dos outros é uma habilidade importante e uma boa parte do cérebro é dedicada a isso. As emoções básicas, como a alegria ou o medo, diferem das emoções chamadas morais (por exemplo, vergonha, culpa, orgulho etc.), que surgem nas interações sociais, onde existem normas ou um comportamento ideal estabelecidos de forma implícita ou explícita.

Compreender e administrar as emoções morais exige uma internalização das normas e princípios morais compartilhados pela comunidade. Também é necessário perceber e entender as emoções das outras pessoas (empatia) e fazer atribuições de seus estados mentais (teoria da mente), incluindo a compreensão de suas crenças e atitudes.

Dessa forma, os desenvolvimentos emocional e social estão estreitamente vinculados entre si.  Outro componente importante do desenvolvimento emocional, ou seja, a regulação da emoção, não é menos importante para a socialização. Nas atividades sociais (por exemplo, na escola), muitas vezes é necessário controlar as reações emocionais, tanto positivas (por exemplo, o entusiasmo) como negativas (por exemplo, a frustração), para que o indivíduo possa se adaptar às normas e aos objetivos. Portanto, o desenvolvimento do controle executivo é fundamental para a regulação da emoção (RUEDA et al, 2013).

Na infância as crianças são “esponjas” e absorvem todo o aprendizado e estímulos ao seu redor. Pense nisso como esponjas: absorvemos tudo em um ritmo diferente e, na puberdade, vamos fazendo as “podas” e este é um momento que podemos ir educando as emoções.

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Como apresentar o lúdico para as crianças

Devemos trazer as experiências lúdicas às crianças de forma real a fim de potencializar o seu desenvolvimento, em especial a social e emocional. “Sair das telas” nesse momento é essencial para o reconhecimento do brincar. Os pais e educadores podem utilizar o jogo como meio para o desenvolvimento das crianças e adolescentes. Pensar na infância nos traz saudades de um tempo que não volta mais. O que você fazia na sua Infância? Quando éramos crianças, a verdade estava na nossa imaginação – onde éramos as princesas no castelo ou os cavaleiros em brilhantes armaduras matando o dragão. Em nossas mentes podíamos fazer qualquer coisa! Sonhar, fazer de conta, agir por impulso e correr risco eram situações permitidas no Mundo da Infância. Momentos mágicos, memoráveis, coloridos e únicos são criados na infância (SILVA; ARAÚJO, 2019).

O brincar e o jogar são momentos sagrados na vida de qualquer indivíduo para Silva e Gonçalves (2017). A vivência e a experiência com as brincadeiras servem de elo entre a relação do indivíduo com a interior e realidade externa. O brincar é caracterizado como um ato de diversão, conferindo enorme dimensão simbólica e a existência de regras simples, sendo fundamental, em potencial, para o desenvolvimento integral das crianças a partir do seu nascimento (SILVA; ARAÚJO, 2019).

Por fim o brincar e o jogar contempla o mundo mágico infantil, pois é uma das principais formas de autodescoberta e vivências da própria criança, partindo da percepção de seus limites e de suas possibilidades, explorando seu ambiente através de suas brincadeiras de uma maneira saudável e produtiva, contribuindo assim, para a integração de suas primeiras experiências culturais.

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Referências

BISSOLI, M. F. Desenvolvimento da personalidade da criança: o papel da educação infantil. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 19, n. 4 p. 587-597, out./dez. 2014

RUEDA, R.; PAZ-ALONSO, P. Função Executiva e Desenvolvimento Emocional. Universidad de Granada, Espanha, Basque Center on Cognition, Brain and Language, Espanha. Janeiro 2013

SILVA, M. H. G. A. C.; TUBELO, L. C. P. Brincando com bebês e crianças pequenas: guia prático para a primeiríssima infância – 0 a 3 anos. São Paulo: Supimpa, 2020.

SILVA, T. A. C.; ARAÚJO, C. S. Vamos brincar: dinâmicas e jogos para potencializar a aprendizagem. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019.

SILVA, T. A. C.; GONÇALVES, K. G. F. Manual de lazer e recreação: o mundo lúdico ao alcance de todos. 2 ed. São Paulo: Phorte, 2017.

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