Claquete de cinema

Filme: Dúvida

 

Reúna atores do quilate de Meryl Streep e Phillip Seymour Hoffman, conte ainda com o inestimável apoio de coadjuvantes do porte de Viola Davis e Amy Adams, tenha a frente das câmeras na direção e também como responsável pelo roteiro o talentoso John Patrick Shanley e como resultado teremos uma produção digníssima, envolvente e intrigante como Dúvida.

As aparentes convenções que surgem diante de nossos olhos quando começamos a assistir esta produção vão se dissipando rapidamente com o desenrolar da trama. Se parece muito óbvio a escola católica, dos anos 1950/1960, bastante conservadora e pouco afeita a aceitar e implementar mudanças que a sociedade está a lhe pedir, aguarde alguns minutos e situações nem um pouco tradicionais estão (ou não?) a acontecer nos bastidores…

Se por um lado temos a direção desta escola sendo conduzida a ferro e fogo por uma madre católica, a irmão Aloysius Beauvier, fervorosa e devotadíssima aos valores que realmente importam na educação de seus alunos, em interpretação novamente magistral de Meryl Streep… O contraponto é o padre Brendan Finn (Phillip Seymour Hoffman, irrepreensível), responsável por esta paróquia e também pela escola, ao qual ela deve obediência na hierarquia religiosa, progressista e orador afiado, com sermões que mexem com a audiência local.

Se nas salas de aula, com alunos pré-adolescentes controlados pela rígida disciplina da instituição religiosa, prevalecem freiras idosas, a proferir ensinamentos sem renovar quase nada o arsenal pedagógico que utilizam, conservador ao extremo… Há também o reverso da medalha com a sorridente, idealista e bondosa irmã James (Amy Adams), que tenta ser severa quando necessário, mas que carrega consigo a chama da caridade, da confiança e da fé cristã baseada nos modelos mais distantes daquilo que sua superiora deseja para tal instituição de ensino…

Se não bastasse isso, há uma novidade no ano escolar em curso: Pela primeira vez a escola tem um aluno negro e, na virada para os anos 1960, com a luta pelos direitos civis aumentando em todo o país, nada mais progressista do que aceitar também esta parcela da comunidade nos quadros escolares, não é mesmo? Mas em se tratando de uma escola e sociedade ainda conservadoras, o que estaria esperando por tal menino, ainda com seus 13/14 anos naquela nova instituição de ensino?

Ao perceber isso, Padre Finn resolve proteger o garoto, apadrinhando-o e dando-lhe algumas oportunidades, como atuar nas missas na função de coroinha. E é justamente nesta relação que se estabelece a tal “dúvida” do título… 

Filme pouco convencional, que nos insere num contexto bastante particular (o das escolas religiosas e da relação entre religiosos, apresentando suas disputas e quedas de braço) ainda que transferível para os tempos atuais, com ritmo compassado e adequado mais a música clássica ou barroca e não a batida techno-pop e ao rap de hoje em dia, Dúvida seduz pelos questionamentos levantados a cada novo passo dado pelos protagonistas, pela belíssima atuação dos protagonistas, direção firme e segura de Shanley e finalmente pelo roteiro inteligente e instigante. Confira!

 

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Filme: Rio Congelado

 

Rio Congelado é um daqueles filmes que não teve muita divulgação, não conta com elenco conhecido (nem ao menos algum coadjuvante que estejamos acostumados a ver nas grandes produções de Hollywood), passou rapidamente pelos cinemas, mas que, ainda assim, conquistou projeção internacional ao ser indicado a prêmios importantes, como a 2 categorias do Oscar. 

A história, como o próprio título nos diz, se passa numa região bastante fria dos Estados Unidos, na fronteira com o Canadá, onde os rios congelam no inverno. Os protagonistas são pessoas pobres, desprovidas daquela aura de primeiro mundo que nos é vendida pelas produções dos grandes estúdios para o cinema e a TV. Temos, logo no início, uma amostra daquilo que é a realidade de milhares de norte-americanos, ainda mais depois da crise econômica ocorrida em virtude da especulação imobiliária naquele país: Uma família em frangalhos em virtude da debandada do pai, com as economias acumuladas meses a fio, para jogar nos cassinos de Atlantic City, começa a ver ruir o sonho de trocar de imóvel, substituindo o seu velho trailer por um novo, mais amplo, moderno, confortável…

Esta desilusão, exposta aos espectadores com a rudeza peculiar daqueles que vendem os bens, mas só os entregam quando têm em mãos os valores integrais que pagam por aquele produto ou serviço que oferecem, acontece logo no início da produção, aos olhos dos dois filhos da mulher abandonada, ainda que ela vá as lágrimas e se comprometa do modo que puder quanto ao dinheiro que já não tem…

Desesperada e sem perspectivas, ela (Melissa Leo, em atuação elogiada) inicia busca pelo marido em lugares da própria localidade em que vive. Em sua primeira parada, no bingo da cidade, descobre o veículo do cônjuge, o que lhe dá a impressão de que ele talvez não tenha ido tão longe assim…

Enquanto tenta entrar na casa de jogos e é impedida pois não tem o dinheiro para entrar, ela percebe que o carro do marido está saindo do estacionamento, dirigido por uma mulher indígena (Misty Upham) e resolve ir atrás. Entra na reserva e ameaça a jovem com um revólver para recuperar o automóvel. É demovida da ideia ao ficar sabendo que pode ganhar algum dinheiro ajudando a jovem indígena a trazer imigrantes ilegais (chineses, latinos, árabes) do Canadá para os Estados Unidos através da reserva, sem grandes riscos de ser pega, atravessando o rio congelado.

Isso pode lhe garantir, após algumas viagens de ida e volta, os recursos necessários para que consiga trocar sua casa e ainda dar algum presente de natal para seus filhos. É ilegal, as pessoas com as quais está negociando são aparentemente perigosas, se for pega ela pode ser presa, mas há dinheiro vivo envolvido na transação, são mais de mil dólares para cada uma delas a cada pessoa ou grupo de pessoas que conseguem trazer para os EUA e neste momento o que lhe interessa é resgatar não apenas sua casa, mas um pouco de sua dignidade perdida…

Rio Congelado, da diretora Courtney Hunt, é um filme diferente, aparentemente amargo, muito realista para os padrões do cinema americano, mas importante por nos mostrar um país onde nem todo mundo é próspero (pelo contrário, há bolsões de pobreza, diferentes daqueles com os quais lidamos em nosso país, onde as pessoas sobrevivem, sem muita dignidade e assistência), onde a imigração ilegal não ocorre apenas a partir dos países latinos (como o México, por exemplo) e no qual a discriminação, ainda que velada e disfarçada quando comparada com outros tempos da história dos EUA, continua presente.

Tecnicamente bem realizado, com protagonistas desconhecidas mas convincentes em suas interpretações, Rio Congelado é um drama do cotidiano, com momentos de suspense, que se revela uma crítica social contundente em um país que se vê potência e prosperidade mas que tem que conviver com a pobreza, as imigrações ilegais, a discriminação, o preconceito… Assista e confira porque o filme ganhou projeção e prêmios! É uma boa surpresa!

 

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Filme: Falcão Negro em perigo

 

Somália, 1993, tropas dos Estados Unidos e os corpos de paz da ONU estão no país. Comandos paralelos exercem autoridade naquele país utilizando da força, da violência e se apossando dos parcos víveres que abastecem o mercado local. As forças norte-americanas estabelecidas no aeroporto de Mogadisu, capital somali, preparam plano para atacar a sede do poder destes rebeldes para prender seus líderes.

O problema reside no fato da sede estar localizada bem no centro da área controlada por estas milícias, tendo ao redor milhares de fanáticos controlados por estas lideranças e armados até os dentes com todos os tipos de armas passíveis de contrabando, de pistolas automáticas a metralhadoras, bazucas e lançadores de foguetes – além de veículos em boa quantidade.

Se não bastasse isto, a cidade está destroçada e há barricadas que impedem ou atrapalham o acesso por terra. O mapeamento do local pelos americanos indica boas possibilidades por via aérea, utilizando esquadrões táticos especializados e fortemente treinados para incursões rápidas com apoio terrestre de blindados e uso de helicópteros. Devidamente organizados e liderados por seu general, partem rumo à cidade…

Tudo corre dentro do programado, inclusive com o rigoroso controle do tempo das ações previstas, até que um helicóptero (os chamados Black Hawk, ou Falcões Negros do título em português) é atingido por um foguete e cai no meio da área controlada pelos inimigos… tudo então muda de figura… O tempo se descontrola e a honra dos soldados americanos impede que se deixe qualquer um deles para trás, ainda que morto…

O filme é um turbilhão e nos coloca de forma bastante próxima daquilo que é verossímil, no olho do furacão, com ataques kamikazes dos terroristas (que tiveram milhares de vítimas), dispostos a tudo para eliminar os soldados americanos. A operação que deveria durar menos de uma hora se estende por quase um dia inteiro. Mais soldados ficam encurralados, os blindados têm dificuldades para sair de Mogadisu, outro helicóptero é abatido, militares feridos e mortos aumentam de número a cada hora… O que fazer?

“Falcão Negro em Perigo”, do diretor Ridley Scott (Gladiador, 1492 – A Conquista do Paraíso, Os Duelistas…), exímio contador de histórias e tecnicamente um dos melhores realizadores do cinema americano faz um filme de guerra diferente de todos os que já passaram pelas telas, misturando a realidade caótica do ataque – que dá a produção aspectos de “Nascido para Matar” de Stanley Kubrick – ao mesmo tempo que faz a adrenalina e a tensão apertarem do começo ao fim. Um filmaço baseado em história verídica! Cinema de Primeira!

 

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