Mulher negra falando para a platéia

O que é profissionalismo? Numa época em que se fala tanto de competências e habilidades é preciso pensar também uma questão primordial, em que tais atributos se encontram inseridos, o profissionalismo e, em particular, no tocante à educação, o que significa ser profissional. Mais do que conceitos, que são certamente importantes, é preciso configurar, na prática, atuação cada vez mais profissional por parte dos educadores.

No que se refere a uma definição, creio ser possível pensar no profissionalismo como sendo composto por elementos como a competência (saber, saber fazer, querer fazer e fazer), ética, respeito, responsabilidade, capacidade de trabalhar e se relacionar bem com pares (equipes, fornecedores e clientes), compromisso de entrega do melhor produto ou serviço, aperfeiçoamento constante (estudo, pesquisa, leitura, cursos, seminários…), proatividade, foco, determinação e paixão pelo trabalho que realiza.

É muita coisa? Não, não é. O conjunto de elementos listados acima é um bom parâmetro para quem quer vencer na vida, como definidor do bom profissional.

Não se restringe, no entanto, somente a isso, conforme mencionado no início deste texto, ao me referir a necessidade que existe de aplicarmos o conceito, de fazê-lo vir à tona, concretizando-o em ações, realizações, práticas e compromissos.

Mesmo sendo tão qualificado o profissional descrito acima quanto aos quesitos que dele se esperam é certo que irá em algum momento errar e, tendo dito isso, neste momento se revelar ainda mais preparado para o exercício de suas funções do que imaginamos.

Como assim? Pelo simples fato de assumir responsabilidades, de tentar sempre, de diferenciar suas ações e expor-se aos riscos inerentes a inovação, por ser franco, honesto e verdadeiro quanto ao que faz, seus princípios, suas falhas e imperfeições.

Não acreditem em profissional perfeito, sem erros no currículo (isso pode até ser providenciado, do ponto de vista da elaboração de documentos que apresentam tal especialista), sem pontos a aperfeiçoar em sua trajetória. Mesmo os ícones, ou sejam, aqueles que parecem estar acima de qualquer suspeita, têm o que melhorar, precisam corrigir falhas cometidas, necessitam estudar e, em muitos casos, carecem de maior humildade e transparência.

Há, é evidente, casos de profissionais que são exemplares praticamente do início ao fim de suas carreiras, mas mesmo estes percorreram o caminho das pedras, iniciaram sua aventura profissional tendo que muito aprender, contaram com o apoio de colaboradores mais experientes, tiveram que estudar muito (e muito mesmo) e se colocaram a prova em inúmeras oportunidades para comprovar suas qualidades. Erraram também, mas foram capazes de aprender com seus erros para que eles não se repetissem, o que lhes facilitou o crescimento e a consolidação de suas carreiras.

Em educação e, especificamente no Brasil, uma vez tendo o diploma debaixo do braço, a comprovar formação em pedagogia ou licenciatura, os profissionais se lançam ao mercado de trabalho. A formação dos educadores brasileiros, por si só, já é deficiente e carece de maior profundidade e experiência de campo. Burlam-se, por exemplo, os períodos de estágio, momentos em que seriam necessários o coaching a ser realizado pelos docentes deste futuro educador e também a definição de parâmetros de observação, troca, registro, comparação e análise do trabalho dos profissionais já estabelecidos nas escolas brasileiras a cujo trabalho tiveram acesso em seus estágios.

O que se pede, no entanto, são registros datados, relatórios obsoletos, descrições monótonas, observações áridas daquilo que é o cotidiano dos professores de escolas públicas e/ou privadas brasileiras ou de gestores de instituições de ensino em diferentes segmentos e níveis. Como podemos almejar professores qualificados, docentes de primeira linha se em seu processo formativo não aprendem o que devem e, ainda, tantas vezes, aprendem o que não devem, como burlar os estágios obrigatórios ao realizá-los de forma descompromissada e inconsequente.

Ainda no tocante à formação, no que tange ao estofo intelectual, a bagagem cultural, a leitura e estudo aprofundado das principais referências da educação brasileira e mundial o que vemos nas universidades brasileiras em pedagogia e licenciatura?

A leitura parcial, incompleta, desleixada, sem foco e, evidentemente, sem resultados efetivos para a formação dos futuros professores brasileiros. Não são lidas as obras na íntegra de Piaget, Vigotsky, Montessori, Freire, Coll, Perrenoud, Levy e outros expoentes da educação mundial de ontem e de hoje. Apenas excertos, resumos ou trechos e capítulos das obras são lidos. Se nem ao menos os educadores são objeto de estudo com a devida atenção imaginem então se outros pensadores e áreas são examinados pelos professores do amanhã…

Professores que querem ensinar seus alunos a aprender a aprender somente o farão de forma plena se, por si sós, já tiverem entendido, incorporado e estejam atuando desta forma. Que não seja apenas discurso apregoado diante dos olhos dos estudantes, que seja realidade o professor leitor, estudioso, pesquisador, compromissado, realizador, inovador, afeito as novas tecnologias, ético, engajado, que trabalha em equipe, crítico, capaz de respeitar regras e parâmetros, organizado…

Este professor chega sempre antes de suas aulas começarem, ou seja, é pontual; está em dia com sua documentação escolar, realizando seus registros dentro dos prazos estipulados; compõem seus planejamentos e os executa; é estudioso; lê materiais específicos e de outras áreas do conhecimento; dialoga com seus pares sobre suas práticas (acertos e erros); compreende e colabora com os demais profissionais da escola; entende e segue regras e regulamentos internos; procura estar atualizado em relação à educação e ao mundo em que vive; é sensível e atento as necessidades e particularidades de seus alunos; procura inovar em seus processos e metodologias; está aberto a ouvir e aprender.

Profissionalismo passa por comprometimento real. Profissionais que sabem muito de uma área específica do conhecimento, mas que não estudam a didática, a psicologia, as leis da educação e que abusam da empáfia e do orgulho, achando-se superiores aos demais e dignos de privilégios certamente não são os profissionais que pensam ser. É preciso fazer com que a educação seja, cada vez mais, uma área de atuação na qual prevaleça o profissionalismo por parte de todos, em especial dos professores, que além de ensinarem conhecimentos específicos, por meio de seu comportamento, atitudes, caráter e postura, influenciam os alunos muito além do que imaginam, para o bem ou para o mal, como exemplos a serem seguidos ou como pessoas que estimulam o comportamento inadequado daqueles que não são, de modo algum, de fato, profissionais.

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