Foto antiga do goleiro Barbosa

Perder e ganhar. Quem ainda não perdeu, que lance a primeira pedra. Quem ainda não ganhou, que se retire do recinto. Não creio que pedras serão atiradas e nem, tampouco que alguém tenha se levantado e saído da sala. Vitórias e derrotas fazem parte da vida de todas as pessoas. E não há fatores de distinção que possam ser utilizados como elementos que expliquem porque, como, quando ou onde, tal e qual pessoa ou grupo de pessoas foi mais ou menos vitorioso do que qualquer outro.

Isso se aplica a vida em todas as suas instâncias. Na escola, no trabalho, na família, na religião, no lazer, na política, nas finanças e, mais claramente ainda aos olhos de todos, no esporte.

No entanto, nem sempre a história de uma vida consegue livrar-se da pecha de perdedor ou da galhardia de vencedor. Quem consegue pensar, por exemplo, em Ayrton Senna da Silva, um dos maiores pilotos de todos os tempos, quanto às ultrapassagens mal feitas, erros de pilotagem, acidentes (a não ser o que acabou por ser fatal para esse notável esportista, um dos episódios mais tristes da vida esportiva de nosso país) ou provas perdidas?

Senna tornou-se sinônimo de vitória, de êxito, de êxtase esportivo. Seu nome está associado, no inconsciente coletivo de gerações de brasileiros e fãs do esporte em todos os países, ao Olimpo reservado aos grandes campeões, aos vencedores imortais.

No entanto, como é estar do outro lado, o daquelas pessoas que são sempre lembradas pelos erros que cometeram e que se tornaram tão públicos e repetidos ao longo dos tempos, que viram uma sina que os acompanha ao longo de toda a existência?

Não importa o que você seja capaz de fazer depois… Das vitórias que irá construir em novos jogos… As pessoas nem mesmo querem se lembrar que a vida continua – com contas a pagar, filhos para alimentar, aniversários a celebrar, outros campeonatos para disputar…

“Barbosa”, documentário de Ana Luíza Azevedo e Jorge Furtado, nos coloca na pele de um personagem protagonizado por Antônio Fagundes, numa máquina do tempo e nos leva de volta à final da Copa do Mundo de 1950, no Brasil. Entramos num Maracanã recém-inaugurado, no dia da final daquele que é o torneio esportivo mais celebrado no mundo todo ao lado das Olimpíadas.

O Brasil, de campanha memorável, com várias goleadas impostas de forma impiedosa aos seus oponentes, encara o Uruguai, campeão mundial de 1930. Não há dúvidas no ar, o título está próximo, o “caneco” é brasileiro…

Mas Ghiggia resolve desafiar a lógica e vence o goleiro Barbosa, até então, inquestionável guardador da meta brasileira… E o nosso muro intransponível se transforma, em poucos segundos, do guardião seguro e valente do gol brasileiro, no responsável por uma catástrofe nacional nunca antes vista… O herói torna-se o vilão… O vencedor é esquecido… Em seu lugar, surge o perdedor que irá carregar esse estigma por toda a sua vida…

Perturbador, “Barbosa” tenta nos abrir os olhos e ver além das aparências do Super-Homem que acreditamos e esperamos sempre encontrar em nossos ídolos… Todos têm pés de barro… A todos é permitido o céu e também é possível o inferno…

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