Banner branco com a foto das três protagonistas em caixa alta intercaladas com outros personagens e o titulo centralizado á direta

A luta pelos direitos civis estava em plena marcha. Os anos 1960 nos Estados Unidos em ebulição política e social. O sul do país, atrelado a práticas discriminatórias em virtude de seu passado escravagista, apesar da vitória nortista na Guerra de Secessão e do surgimento de um sem número de leis que tinham como propósito tornar igual a condição de negros e brancos na sociedade norte-americana, teimava em atuar no sentido do “iguais mas separados”.

Por conta disso, ainda que contassem com o apoio da legislação e das autoridades federais, a população negra dos estados sulistas ia para escolas distintas daquelas utilizadas pelos brancos, andava na parte de trás dos ônibus, usava bebedouros e banheiros públicos destinados somente as pessoas com ascendência africana e sofriam brutal perseguição ao tentarem se incluir entre os votantes nos núcleos eleitorais de suas cidades.

Não bastasse tudo isso, eram ainda vítimas de perseguições violentas por grupos de extremistas, como a KKK (Ku Klux Klan) e não tinham sua segurança e integridade física e material garantida pelos agentes policiais locais, muitas vezes membros da Klan ou com opiniões contrárias as leis vigentes no país e a campanha intensa em prol da integração que ocorria em toda nação.

Filmes como “Selma”, “Mississipi em Chamas”, “Assassinato no Mississipi” e “Malcolm X”, entre outras produções de enlevo, abordam os bastidores desta luta intensa pelos direitos da população negra nos Estados Unidos. Poucos, no entanto, demonstram o que acontecia com as mulheres negras ou, ainda, com profissionais negras muito qualificadas dentro da esfera corporativa estatal ou privada.

“Estrelas além do tempo” nos coloca justamente neste patamar e apresenta, como 3 brilhantes mulheres fizeram história, nos bastidores da poderosa e celebrada agência espacial norte-americana, a NASA, em fatos até bem pouco tempo desconhecidos para a grande maioria das pessoas. Há, evidentemente, nesta história trazida para as telas desde o preconceito explícito, passando por situações inexplicáveis entre pessoas aparentemente tão inteligentes quanto engenheiros de ponta da NASA até, principalmente, a superação das protagonistas, toda a sua capacidade e brilho profissional, questionados meramente pelo fato de que eram pessoas negras e, além de tudo, mulheres.

O filme aborda, portanto, dois tipos evidentes de discriminação que vigiam na época e que, infelizmente, ainda são correntes nos dias atuais, o preconceito em relação aos negros e as mulheres. Os dados atuais talvez sejam um pouco melhores em relação aos anos 1960 na região sul dos Estados Unidos, no entanto, por lá, no Brasil ou em qualquer outra parte do mundo, as mulheres sofrem violências inaceitáveis, são submetidas a salários inferiores em relação aos homens e, caso sejam negras, as disparidades, como nos exemplos citados, aos quais podem ser adicionadas outras situações, são ainda maiores. Totalmente inaceitáveis ambas as condições.

Neste sentido, o filme de Theodore Melfi, tem grandes méritos pela bela história que traz para as telas, inspiradora para todos aqueles que lutam contra os evidentes prejuízos contabilizados diariamente pela discriminação racial, étnica e de gênero. Um libelo que precisa ser visto, apreciado, aplaudido e que deve legar aos espectadores uma postura cada vez mais contrária a qualquer tipo de intolerância.

O filme

Estamos no início dos anos 1960, em plena Guerra Fria, durante a chamada corrida espacial envolvendo russos e americanos. Este período é igualmente intenso politicamente nos Estados Unidos em virtude da luta pelos Direitos Civis, liderada por nomes como Martin Luther King e Malcolm X, através da qual os negros norte-americanos pleiteiam a igualdade de direitos em relação a população branca.

Katherine Johnson (Taraji P. Henson), Dorothy Vaughn (Octavia Spencer) e Mary Jackson (Janelle Monáe) trabalham na NASA e estão, portanto, muito envolvidas com a corrida espacial. São especialistas em cálculos complexos, atuando como “computadores humanos”, numa época em que os equivalentes cibernéticos ainda eram tão grandes e dispendiosos, além de limitados e caros, que boa parte dos estudos matemáticos necessários para se mandar foguetes para o espaço passava pelos engenheiros e técnicos da agência espacial norte-americana.

Se não bastasse isso, são mulheres negras num contexto social bastante delicado, marcado por lutas sociais intensas e pela discriminação evidente, seja pelo fato de serem afrodescendentes ou por serem do sexo feminino. Convivem com a desconfiança, são tratadas com descaso por superiores, submetidas a situações humilhantes como banheiros separados, tem pouca ou nenhuma possibilidade de ascensão na hierarquia da NASA.

São mulheres negras que, no entanto, foram decisivas para as conquistas espaciais norte-americanas na composição de forças e trabalho em prol do desenvolvimento que levou satélites e foguetes daquele país para o espaço, trazendo significativos avanços científicos para toda a humanidade.

“Estrelas além do tempo” nos coloca em contato com a história de cada uma delas, que ao mesmo tempo ocorrem e que lhes permitem a superação de situações e de contextos claros e evidentes de discriminação em relação as mulheres e a população negra por elas representadas. Um filme emocionante, de gente como a gente, que buscou por meio dos estudos e do trabalho árduo, chegar onde chegou e que, ainda assim, enfrentaram dificuldades que, infelizmente, por conta da intolerância e da discriminação, continuam ainda hoje a existir no mundo.

Para refletir

1. Além da temática focada nos direitos civis, o filme aborda também a Guerra Fria e a Corrida Espacial, eventos de vulto envolvendo a época as duas maiores potências mundiais, os EUA e a União Soviética. Passados mais de 50 anos daquele momento histórico é sempre importante refletir sobre o que nos legou tal conflito no que tange a conquistas e derrotas. A corrida espacial, por exemplo, foi responsável por importantes avanços tecnológicos que migraram da indústria aeroespacial para o dia a dia das pessoas. Que tal buscar estas contribuições e discutir tal legado com seus alunos?

2. Para melhor entender os anos 1960 e a luta pelos direitos civis faça uma breve mostra de filmes relacionados ao tema, entre os quais os já mencionados “Selma”, “Mississipi em Chamas”, “Assassinato no Mississipi”, “Malcolm X” e, é claro, “Estrelas além do tempo”. Compare as abordagens, proponha aos alunos que se coloquem no lugar dos personagens, peça a eles que criem relatos em papel, áudio e vídeo sobre a intolerância, a violência racial, a perseguição aos afrodescendentes, a desigualdade de gênero… Tudo embasado, se possível, em dados adicionados ao conteúdo dos filmes, a leituras de materiais selecionados e a relatos de pessoas que viveram esta época ou que ainda hoje sofrem com a discriminação racial ou de gênero.

3. A expressão “computador humano” usada no filme pode causar estranheza a todos aqueles que hoje lidam e convivem com a internet, computadores, tablets, smartphones e tecnologias afins. Que tal buscar mais referências a ideia dos computadores humanos e comparar, na medida do possível, o cérebro humano com a inteligência artificial, compondo uma linha do tempo sobre o tema, criando um infográfico, por exemplo.

 

Veja o trailer:

 

Ficha Técnica

  • Título: ESTRELAS ALÉM DO TEMPO
  • Título original: Hidden figures
  • País/Ano: EUA, 2017
  • Duração: 126 minutos
  • Gênero: Drama, Biografia
  • Direção: Theodore Melfi
  • Roteiro: Allison Schroeder
  • Elenco: Taraji P. Henson, Octavia Spencer, Janelle Monáe, Kevin Costner, Jim Parsons, Kirsten Dunst, Mahershala Ali, Aldis Hodge.

Informações

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