Educação antirracista e o protagonismo negro na literatura infantil

Nas salas de aula da educação infantil ou do ensino fundamental, os livros de literatura fazem parte das propostas pedagógicas.

Na fase de contato com a leitura, as crianças podem aprender a ler e a se sentirem estimuladas a partir da ‘contação’ de histórias pelos professores e professoras. É um momento mágico de ouvir, sentir e também de se ver nos enredos das histórias.

Aquele cantinho da leitura, que a maioria das escolas tem nas salas de aula, ou as bibliotecas com acervos da literatura infantil são espaços que todas as crianças podem acessar e enriquecer seus aprendizados.

São histórias de aventuras, terror, humor que possibilitam a imaginação infantil, algo tão valioso nessa fase escolar.

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Os livros de literatura infantil têm contribuído com a educação antirracista?

Para responder essa pergunta é válido lembrar que a literatura infantil traz em si representações ideológicas relacionadas ao corpo, vestimentas, fala, religião, concepções de civilização e hierarquia dos personagens. As reflexões que podemos fazer são:

Quais representações transmitimos às nossas crianças quando conto determinada história?

 As histórias que eu conto retratam os personagens negros em papeis secundários ou de coadjuvantes?

As histórias reforçam a marca da condição de inferiorizados ou subalternizados dos personagens negros e negras?

Como os personagens negros e negras são representados e apresentados às crianças?

Essas perguntas sobre as imagens ou aos enredos das histórias devem fazer parte das nossas reflexões quando lutamos e defendemos uma educação antirracista. Mas nem sempre tivemos estas questões como pauta no planejamento das atividades que envolvem a literatura infantil em nossas salas de aula. A literatura infantil mudou ao longo das últimas décadas e é importante que nós profissionais da educação fiquemos atentos a isso.

Pensando na história é necessário saber que a maioria dos livros de literatura infantil até os anos 1970 hierarquizava personagens e culturas negras, descritas de forma desprestigiada do ponto de vista racial.

Alguns exemplos como os livros “Tintim do Congo” e “As aventuras de Babar” tratavam em seus enredos, histórias onde os personagens negros e negras eram subalternos e ridicularizados.

Após a promulgação da Lei 10.639/2003, que obriga o ensino da história e da cultura africana e afro-brasileira nas escolas, as obras literárias voltadas para crianças buscam romper com estereótipos de personagens negros e negras.

Esta foi uma grande conquista pois passamos a ter histórias onde os personagens negros e negras são protagonistas ou desenvolvem papeis de destaque, colaborando para uma educação antirracista.

Esta constatação não se refere apenas as crianças negras, mas todas as crianças. Com este cenário as crianças aprendem que todos e todas são capazes, podem ser heróis e heroínas, independentemente da cor da pele, podem ser personagens importantes e também desempenhar diferentes papeis sociais.

A presença de personagens negros e negras como protagonistas nos livros de literatura infantil também colabora de forma positiva na formação da identidade das crianças, contribuindo com a construção do olhar para consigo mesma e com os outros que a rodeiam. Como ela se vê? Como ela vê o coleguinha?

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Como definir quais livros ter no cantinho da leitura ou na biblioteca da escola?

Atualmente há várias referencias de autores que escrevem histórias com personagens negros e negras como protagonistas, ou histórias que trazem em seus enredos as culturas africanas, e ainda uma vasta literatura que problematiza o racismo.

Autores como o Renato Noguera com os livros “Nana & Nilo: aprendendo a dividir”, “Nana & Nilo: que jogo é esse?” em ambos os personagens negros são protagonistas.

A autora Sonia Rosa tem uma variedade de livros que contam histórias com foco nas culturas africanas como “Feijoada”, “Jongo” e “Tabuleiro da baiana”. A Coleção “Black Power Personalidades” traz a biografia de diversas pessoas negras que foram e são referencias importantes ao longo da história como “Zumbi e Dandara”, “Alice Walker”, “Malcolm X”, “Conceição Evaristo” e “Angela Davis”.

O livro “Betina” de Nilma Lino Gomes e “O pente que penteia” de Olegário Alfredo são exemplos de literatura infantil que enfatizam suas histórias no cabelo crespo. Kiusam de Oliveira escreve o livro “OMO OBÁ: História de Princesas” que reconta mitos africanos. Estes são alguns exemplos que podem ser o pontapé para iniciar um trabalho com a literatura em prol de uma educação antirracista.

As literaturas ligadas às temáticas étnico raciais ajudam na educação antirracista na medida em que mostram as possibilidades de ocupação de um lugar social negado aos personagens negros e negras durante décadas.

Proporcionar às crianças da educação infantil e do ensino fundamental o acesso a uma literatura que problematize o racismo, enfatize possibilidades de ser o que desejar e que mostre as inúmeras formas de estar no mundo é um caminho na luta antirracista.

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