Pilha de livros e um livro aberto

Pesquisa da FIPE (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), realizada a partir de encomenda do Sindicato Nacional dos Editores de Livros e da CBL – a Câmara Brasileira do Livro, indicam queda no setor de venda de livros no país em 2017.

O principal fator para esta queda relaciona-se à diminuição de aquisições por parte do maior comprador de livros no país, o governo federal, responsável pela compra de volumes didáticos encaminhados via PNLD (Plano Nacional do Livro Didático) e outros programas para as escolas brasileiras, em especial, para o ensino básico.

A queda no segmento foi de 4,76%, demonstrando que, para o público brasileiro, na hora de cortar despesas, os itens culturais tornam-se prioridade, ou seja, são considerados luxos e supérfluos.

O segmento dedicado a produção de livros didáticos foi, conforme já mencionado, um dos mais afetados, tendo retração de 10,43%. Os livros de caráter científico, profissional e técnicos também foram menos adquiridos pelo público-alvo, ou seja, por quem está em formação ou pós-graduação, por exemplo, ou por aqueles que já estão no mercado e precisam de atualização.

Estudar e, neste caso específico, se atualizar por meio de leitura de qualidade custa caro no Brasil é o que se depreende destes números. A crise afetou a leitura entre aqueles que são responsáveis pela melhoria do setor produtivo e, ainda, de quem irá, em breve, ingressar no mercado.

Esta é, certamente, uma notícia ruim. Na prática significa dizer que do ensino básico, com os prejuízos e menores vendas de livros didáticos, até o segmento técnico e profissional, passando pelos especialistas que trabalham com ciência, o país está lendo menos, se atualizando menos e, com isso, estando menos preparado para os desafios que o mundo globalizado impõem a todas as nações que dela participam.

Não é à toa que, por meio de outra pesquisa, ficamos sabendo que a produtividade do brasileiro é 4 vezes menor que a dos americanos e 3 vezes inferior à de alemães e franceses, por exemplo.

Como competir se a educação que oferecemos é de qualidade ruim e o povo lê pouco?

No segmento editorial o alento dado na pesquisa foi dado para os livros religiosos cujo setor apresentou, na contramão dos demais, crescimento de 1,61%. Esta tendência de aumento de vendas também foi percebida entre editoras que atuam com as chamadas obras gerais, que agregam desde obras literárias até autoajuda e livros para colorir.

Os especialistas afirmam que é melhor ler do que não ler, seja qual tipo de leitura tivermos em mãos, ainda que, em muitos dos casos mencionados, relacionados aos segmentos que crescem no mercado editorial brasileiro, o conteúdo pouco agregue, de fato, quanto a saberes e conhecimentos que permitam aos leitores aperfeiçoamento pessoal ou profissional respaldado por pesquisas sérias, levantamentos de especialistas, dados de instituições científicas…

Concordo em relação a necessidade de ler sempre, ainda que, em relação a muitos dos livros adquiridos no país o que se oferece em termos de conteúdo seja raso, o simples acesso a uma obra, seja ela um clássico da literatura, um livro técnico ou uma leitura religiosa, quanto mais pessoas estiverem lendo, melhor para o país.

É preciso, no entanto, semear entre as novas gerações de leitores, não apenas o hábito da leitura, mas a de uma leitura de qualidade.

Num país em que 30% dos habitantes nunca adquiriram um livro, em que somente 4 em cada 10 homens são leitores e pouco mais de 50% das mulheres cultivam este hábito e, no qual, a média de leitura é de 2 livros por ano, média esta que considera os volumes didáticos adquiridos pelo governo, o simples fato de estar lendo a Bíblia, um livro de autoajuda ou um best-seller já é algo a ser visto com bons olhos.

No melhor dos mundos, em relação ao qual o Brasil tem passado longe na maioria dos seus indicadores (saúde, educação, segurança, serviços, emprego…), como em países ricos da OCDE, a média de leitura anual está na casa dos 10 livros por mês. Se olharmos somente para nossos vizinhos latino-americanos veremos que chilenos e argentinos, por exemplo, tem índices superiores a 5 livros lidos por ano…

Dá para chegar lá? Sim, é claro, mas a escola e a família são elementos decisivos para que as novas gerações sejam leitoras e que leiam livros de qualidade. Esperar somente de ações governamentais as campanhas e medidas para popularizar a leitura e a cultura no país é demonstrar que, realmente, precisamos de muito mais leitura de qualidade para sairmos do atraso em que nos encontramos…

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