Vários ícones representando as redes sociais

As redes sociais, desde sua introdução na internet, geram polêmica. Apesar de utilizadas por bilhões de pessoas, amadas por elas e diariamente movimentarem de forma gigantesca o movimento de dados na internet, são percebidas por alguns como uma perda de tempo pois nada acrescentam se o usuário simplesmente nelas embarca e fica por minutos ou horas a fio a verificar os compartilhamentos vindos de seus “amigos” ou “seguidores”.

Há, também, por parte dos detratores das redes sociais a compreensão de que a privacidade é algo que deixou de existir a partir da introdução de plataformas como o Facebook, o Twitter, o Instagram ou o YouTube.

A ideia de que uma falsa realidade se estabelece por meio das postagens também é algo que incomoda muitas pessoas, tendo em vista que as redes sociais, na maior parte do tempo, trazem apenas imagens festivas, alegres, de conquistas ou realizações, idealizando o mundo e omitindo os problemas, dores e desilusões.

As redes sociais, apesar do nome, são compreendidas por alguns estudiosos como elementos que isolam as pessoas ao invés de aproximá-los, ou seja, fazendo com que fiquem fechadas em seu universo particular ainda que, por meio de seus canais na web, tenham centenas ou milhares de “amigos” ou “seguidores”.

O próprio uso dos termos “amigos” e “seguidores”, aqui destacados entre aspas, é algo a ser discutido. Entre as centenas ou milhares de pessoas que estão nas redes dos usuários de todas estas plataformas sociais, quem realmente é amigo? E o que significa ser “seguidor”?

No livro “Dez argumentos para você deletar as suas redes sociais”, publicado no Brasil pela Editora Intrínseca, Jaron Lanier, cientista e escritor, notabilizado mundialmente desde a década de 1980 quando criou a expressão “realidade virtual”, aborda este tema polêmico e espinhoso, trazendo à tona alguns argumentos e ideias relacionados as redes sociais, que não são normalmente debatidos e que precisam ser conhecidos e pensados coletivamente, quer seja você um crítico das redes ou um usuário contumaz que as defende com unhas e dentes.

Lanier, ainda que destaque no título do livro a ideia de que as redes sociais deveriam ser deletadas de nossas vidas, propõe que estas plataformas sejam repensadas, retiradas durante alguns meses de nossa existência e que retornem com um modelo diferente daquele que hoje está em vigência, associado a ideia de “gratuidade”, ou seja, a de que somos amplamente beneficiados por estas plataformas mas que, na realidade, os maiores beneficiários de nossa atividade na web, que abastece e movimenta o Facebook, o Instagram, o Twitter, o YouTube e afins, são as empresas que as mantém e, muitas vezes, outros conglomerados e corporações ou, ainda, governos de muitos países do mundo.

O “grátis” custa muito caro e, isso não é algo constatado somente por Lanier, as informações que são disponibilizadas na internet abastecem desde a própria rede social com dados da vida privada das pessoas como também toda uma ampla rede de outros interessados, que vai das lojas virtuais que oferecem produtos para os usuários e os levam ao consumo mesmo quando não precisam, passando por verdadeira “espionagem” na vida das pessoas e abastecendo inclusive grupos de marginais que navegam pela rede e usam os dados de milhões de pessoas para fins ilícitos de variadas naturezas.

Conforme mencionado, Lanier enumera 10 motivos pelos quais, segundo ele, deveríamos repensar nossa presença e atuação nas redes sociais, sendo eles:

  • O VÍCIO provocado pelas redes, constatado pelo uso crescente e pela perda da noção de realidade quando os usuários embarcam em tais plataformas, numa constante busca de aprovação e visualização de si pelos outros e dos outros por si mesma.
  • As FAKE NEWS que disseminadas pelas redes sociais provocam discórdia, enganam as pessoas, geram sensação de insegurança.
  • A disseminação de GRUPOS DISCRIMINATÓRIOS que usam as redes para propagar ideias racistas, xenófobas, machistas…
  • A MANIPULAÇÃO que ocorre pelas redes sociais, direcionadas por usuário, de acordo com o que a pessoa busca, tendo sempre acesso a dados, informações, produtos e ideias que estão em conformidade com o que pensam tais usuários e que, nas entrelinhas, contém formas sutis de direcionar comportamentos.
  • Controle e manipulação da ECONOMIA com grandes corporações se sobressaindo e estabelecendo padrões de consumo que beneficiem seus produtos e serviços.
  • A disseminação de DISCUSSÕES e DEBATES FÚTEIS que nada acrescentam pois faltam argumentos, ideias e os temas propostos são esvaziados já que o ponto de vista alheio é desconhecido ou percebido apenas superficialmente.
  • A manipulação da POLÍTICA por meio de grupos que controlam os dados de eleitores, disseminam notícias falsas e promovem discussões sem fim e sem fundamento que minam e desacreditam o debate que deveria, de fato, acontecer.
  • O ensejo a VIOLÊNCIA e a AGRESSIVIDADE na rede tendo em vista o distanciamento, a possibilidade de mascarar dados e informações (pretenso anonimato).
  • O fato das redes, coordenadas por meio de algoritmos, se aterem a números e não a ESSÊNCIA e a ALMA das pessoas.
  • As redes serem mediadas por equipamentos e plataformas, distanciando as pessoas presencialmente e, com isso, promovendo MENOR EMPATIA.

Com todas estas ideias apresentadas, Lanier advoga a tese de que a sociedade está doente e que, como no caso de viciados em drogas, tabaco ou álcool, é preciso tratamento e cuidados com aqueles que extrapolam o uso das redes sociais.

Reitero que o problema, não são os recursos, é o uso que se faz dos mesmos, ou seja, o fator humano, por trás das máquinas, a definir descaminhos e não caminhos seguros para o que realmente precisamos, seja no âmbito pessoal, profissional ou no coletivo no uso das tecnologias no geral e das redes sociais em particular.

Lanier, por sua vez, pensa que o caminho de volta passa pela cobrança por tais serviços e, com isso, o estabelecimento de contrapartidas e controle por parte dos usuários e órgãos governamentais e pela sociedade civil. Pode até ser, mas somente isso resolveria? A discussão deve ser ampliada e, com isso, novas soluções poderiam ser pensadas e propostas. Somente assim, de fato, poderemos melhorar nosso uso das redes sociais, tornando esta ação mais segura e consolidada, com reais benefícios para todos.

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